Desenvolvimento econômico x Desenvolvimento social: a questão ambiental , o problema da liderança em biocombustíveis.
Desenvolvimento sustentável, segundo a Nações Unidas, é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das gerações posteriores. Trata-se de uma definição que busca um ponto intermediário na eterna luta entre o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. Reside nesse ponto intermediário duas problemáticas inconciliáveis. A primeira, sob o aspecto do desenvolvimento econômico, é que é necessário aumentar a exploração dos recursos naturais, e o que se tem já pode ser até quadruplicado que ainda assim não atenderá toda a demanda produtiva sem invadir o pouco que ainda restou de recursos preservados. A segunda, sob o aspecto ambiental, é que necessita-se de uma mudança radical na produção mundial a fim de iniciar uma reversão do caótico quadro natural. O desenvolvimento sustentável não é necessariamente preservação ambiental, mas uma marcha lenta no avanço produtivo com o uso de soluções paleativas de substituições graduais.
Um país como os Estados Unidos, a fim de cumprir a parte que lhe cabe na redução do monóxido de carbono, previsto no Protocolo de Quioto, necessitaria comprometer mais de 70% de sua produção, inteiramente baseada no uso de petróleo e seus derivados. Ou seja, os Estados Unidos, mesmo que quisesse, não poderia fazê-lo, pois o colocaria numa situação arriscada demais e que provavelmente iria reduzir drasticamente sua posição atual de liderança mundial. Por compensação, busca criar soluções caseiras. Tramita no Congresso dos EUA diversas propostas de redução do monóxido de carbono, bem modestas em relação ao proposto pelo Protocolo de Quioto, mas que ainda assim iria forçar grandes manobras na produção ianque. Dentre essas propostas, a implementação de combustíveis alternativos e de origem renovável em gradual substituição à gasolina. Para que a produção interna ianque dar conta sozinha da demanda, precisaria comprometer quase dois terços de sua produção de plantas oleaginosas como o milho e o soja. O resultado é a inevitável importação desse combustível.
O Brasil, que mesmo ainda investindo pouco, é em potencial um dos países mais avançados no mundo em matéria de biocombustível. Porém, para suprir a demanda internacional a ponto de ser líder mundial, também terá que migrar sua produção de alimentos por produção de combustíveis. O resultado é, como diria Nelson Rodrigues, óbvio ululante: o país verá um de seus maiores crescimentos econômicos de sua história assim que começar a ser líder mundial de combustíveis alternativos, mas terá um aumento absurdo de famélicos. Uma política de sustentabilidade de seu desenvolvimento que se revela insustentável. O país não criou e demonstra cada dia mais incapaz de reformar e desenvolver profundamente suas estruturas básicas fundamentais e, assim, desenvolver-se socialmente. A distribuição no país é absurdamente desigual e tenderá a ser ainda mais. E não se tratam de previsões pessimistas, mas de simples análise econômica.
Existe ainda mais alguns agravantes, mas citando o principal, em minha opinião: a resistência protecionista dos mercados ianque e europeu apelam justamente no sentido da preservação ambiental. De que tamanho desenvolvimento em combustíveis alternativos não podem ocorrer no Brasil por ser inevitável, segundo argumentos da União Européia, o desmatamento das últimas matas nativas, principalmente da Amazônia. O direito de um país se desenvolver e de ao menos criar suas próprias respostas para seus problemas é usurpado em nome da preservação ambiental, que só se aplica aos outros, pois as potências mundiais não fazem o mesmo entre si.
Para o desenvolvimento econômico em patamares neoliberais tudo se torna contraditório e inconciliável. Não há como conciliar desenvolvimento social, preservação ambiental, e tantas outras necessidades. Ao mesmo tempo, para que um povo tenha a sua soberania no mundo atual, ele deve ter estrutura, e essa só é conquistada justamente com o desenvolvimento econômico e social. A fábrica de contradições do capitalismo é a única que continua à todo vapor, renovando-se, e sem choques com protocolos e soluções paleativas.
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