01 março 2013

Afinal, o que foi Yoani Sánchez no Brasil?


Há um mês antes da vinda de Yoani Sánchez para o Brasil, Lula, em Cuba, aponta uma valiosa pista para que compreendamos o motivo de tanto faniquito causado pela imprensa brasileira e adversários do governo Dilma. Para o ex-presidente, Cuba tem um significado para todos nós, latino-americanos, até mesmo para aqueles que são contrários à revolução cubana: a força moral construída pelo povo cubano em defesa de sua dignidade e soberania tem que ser respeitada.

Não são poucos os cubanos detratores da socialista Cuba, porém quase todos moram em Miami. Yoani é a primeira, com destaque, que fala de dentro da ilha que trocou uma ditadura burguesa por uma operária. E é esperta a senhora Sánchez, pois diz que fala em nome de toda uma geração - a geração Y, ou a dos jovens que tem Y em seus nomes e que são nascidos nas décadas de 1970 e 1980. Portanto, mais que uma simples blogueira em meio a tantos milhares, o mundo conservador encontrou em "generación Y" uma pequena brecha na tão sólida e respeitada dignidade do povo cubano. 

Por outro lado, há algo em Yoani que não se sustenta. E o elemento insustentável é a própria Yoani. Basta relembrarmos dos incríveis jogos panamericanos de Havana, ou dos 'caliente' jogos de vôlei entre Brasil e Cuba para não conseguir ver Yoani como uma cubana. Todas as cubanas que conheci são extremamente vaidosas, mas diante de uma série de desleixos, é estranho olhar para a cubana Yoani e dizer: é cubana. O estranhamento não para por aí. Uma blogueira ser tratada como chefe de estado justamente pelos veículos de comunicação mais arrogantes da América Latina é algo que provoca por demais a inteligência. Ver o senador Suplicy se lembrar que é membro de uma das mais tradicionais famílias de São Paulo e afagar a blogueira como se ela fosse uma pobre exilada - sendo que não é exilada, muito menos pobre. Falar de democracia e liberdade de expressão ao lado de Caiado e Jair Bolsonaro, então, transborda o bom senso. E vai mais além: é aplaudida com lágrimas nos olhos por Alckmin, o mesmo que se tornou famoso pela sua higienização social e duros procedimentos policiais contra ativistas e estudantes quando ela falava em por fim ao medo de se manifestar.

Então, ao analisarmos os discursos de Yoani publicados em seu blog e nas entrevistas dadas na recepção de O Estado de São Paulo e do Roda Viva, encontramos então mais e mais incoerências. O discurso vai se quebrando com uma facilidade imensa, mesmo em debates armados onde as perguntas eram elaboradas para ela desfilar com respostas contundentes. Se compararmos o que ela dizia com o que a imprensa brasileira falava sobre o que ela dizia, então, a coisa se tornava ainda mais insustentável. 

A ciência política explica com uma facilidade imensa o que aconteceu. Yoani é a representante de uma classe social oprimida em Cuba. Porém, a classe social de Yoani é justamente aquela que oprime a maioria do povo brasileiro. Quando a blogueira se manifesta a favor de maiores poderes para sua classe social em um regime operário, as classes sociais que estão no poder aqui no Brasil, no regime burguês, logo se identificam e justificam em seu discurso a manutenção da opressão do povo trabalhador brasileiro. Como o ensino da cultura e da ciência política no Brasil é sistematicamente combatida para que a opressão da classe burguesa continue sem maiores problemas, a explicação científica fica ainda mais confusa para o público em geral.

No fim das contas, Yoani foi embora e ficou no ar a pergunta: afinal, o que ela queria? Um amigo, sagaz e com uma capacidade enorme para brincar com coisa séria, achou uma boa resposta: ora, ela queria abrir uma lan house em Havana.

Ósculos e amplexos!

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