14 novembro 2012

Movimentos Sociais e a Ciberpolítica.


Há tempos venho buscando resposta para o debate sobre a comunicação nos movimentos sociais. Desde quando houve uma série de debates e congressos que eu participei enquanto militante do movimento estudantil sobre a crise do movimento secundarista. Esse debate já passou mais de uma década e eu continuava sem uma resposta. E olha que muito procurei. Eis que, completamente descompromissado, fuçando as prateleiras de uma livraria encontro um livro que não me deu as respostas, mas o caminho para a conclusão (Kevin A. Hill, John E. Hughes. Cyberpolitics: citizen activism in the age of the Internet” Rowman & Littlefield, 1998). Curiosamente, o livro foi publicado em 1998, muito antes da chamada internet 2.0. E, bastante visionário, trouxe-me o caminho para as reflexões que tentarei descrever aqui (quem sabe, mais tarde, não vire um artigo). Utilizarei como exemplo o movimento estudantil, mas creio que as situações podem ser aplicadas em qualquer organização política.

Em uma conversa com amigos que ainda atuam no meio estudantil surgiu uma dúvida: qual a importância atualmente do jornalzinho do grêmio ou do centro acadêmico? Praticamente não se vê mais nas mãos de ninguém um papel sequer dizendo o que o diretor, o professor, o coordenador ou mesmo o que os estudantes fazem. Mas, por outro lado, muito mais do que se poderia imaginar, há mais de uma década, já se encontra de tudo com uma riqueza imensa de detalhes disponível na internet para que souber procurar. Inclusive, sobre todos os elementos de uma vida escolar ou acadêmica. São os efeitos da chamada ciberpolítica.

A ciberpolítica, resumidamente, é o uso das novas tecnologias na política. Parte-se do princípio que cada nova tecnologia que se massifica tem um grande potencial político, sendo capaz de promover mudanças na sociedade. Porém, acreditar que uma ação na internet, por si só, pode ser capaz de mudar o mundo soa como um exagero imenso. Afinal, por melhor que seja uma determinada ação política no meio virtual, ela é incapaz de mudar a forma pela qual as tomadas de decisões são realizadas. Ainda que influencie, e muito, ela não transforma. A ciberpolítica é capaz de acelerar ou desacelerar, por algo em evidência ou até mesmo inverter prioridades, porém ela não altera o processo político em si.

Aquele que acredita que a política pode ser inteiramente feita pela internet se engana e se ilude igualmente aquele que acredita que é uma grande bobagem a chamada ciberpolítica. Muito mais que uma técnica de comunicação, o uso da internet é uma estratégia política complexa. O domínio dessa ferramenta consiste em, mais ou menos, na predeterminação de um resultado. Em outras palavras, ao selecionar quais as entradas no meio virtual se espera uma determinada saída – deixando que a surpresa seja no sentido da intensidade, jamais na propriedade. A retroalimentação é base da ciberpolítica. Todos os elementos devem se comunicar entre si, de maneira coerente e constante. Eis o núcleo do processo.

Enquanto o jornalzinho da escola agia como uma espécie de vitrine – onde as informações estão expostas para quem quiser ver – a chamada web 2.0 é inteiramente interativa. E aquele ator político que se pretende atuar na rede mundial de computadores deve pensar de maneira a correlacionar todos os entes comunicativos e fazer com que interajam entre si. Portanto, o jornalzinho da escola estará obsoleto assim como obsoleto é o blog do grêmio. Há a necessidade, portanto, de um verdadeiro ativismo comunicativo. Todas as ferramentas de comunicação devem interagir com todos os que se deseja comunicar. O secretário de comunicação de um grêmio estudantil, que no máximo cuidava da periodicidade do jornalzinho, hoje tem que ser responsável por uma imensa estratégia de comunicação que envolva o jornalzinho, o blog, os blogues de todos os estudantes e apoiadores do grêmio, o facebook, o Orkut, o Twitter, o tumblr, o foursquare, SMS, e tudo o mais que for surgindo e se massificando.

Jamais subestimar a capacidade comunicativa de um meio de comunicação é a primeira regra. Jamais saia utilizando os meios de comunicação sem uma estratégia de comunicação bem definida é a segunda. Ter um discurso de comunicação é a terceira – e que tem que ser o discurso de muitos, não o de um (empowering people).Quarta regra: desenvolva as ferramentas comunicativas e coloque à disposição de todos e todas, livremente e sem medo de críticas (aliás, há sempre uma forte tendência em se querer limitar ou mesmo aplicar uma espécie de censura interna aos membros de uma determinada organização em nome de uma suposta unidade de ação. Ledo engano, é justamente na diversidade de ideias é que surge a unidade – as coisas mudaram muito com a chegada da internet). E, por fim, visibilidade – online e off-line!

Por fim, há um processo que deve ser considerado em matéria política. Todas as ações sociais, em geral, seguem três passos: debate, convocatória e mobilização. No primeiro, define-se problema e estratégia. No segundo, angaria apoios. No terceiro, massifica. Mas, engana-se quem acredita que a ciberpolítica tem maior peso somente no terceiro passo. Tem peso em todos eles, principalmente no primeiro. O debate, com a interatividade online e off-line exigida pelos tempos atuais, exige um número significativamente maior de pessoas para que a estratégia definida ganhe corpo e mais tarde às ruas. Então, respondendo, não é o jornalzinho que se está em crise, mas toda a estratégia de comunicação – que infelizmente, não há uma cultura instituída nos movimentos sociais ainda.

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