“João, um ciumento risível
Quer ter mulher e descanço.
Compra um cão brabo, terrível
Pra impedir qualquer avanço.
À noite, que ruído horrível!
O cão a todos mordeu.
Salvo o amante que o vendeu”.
(Canção final de Fígaro, na obra “As Bodas de Fígaro” de Beaumarchais).
Quer ter mulher e descanço.
Compra um cão brabo, terrível
Pra impedir qualquer avanço.
À noite, que ruído horrível!
O cão a todos mordeu.
Salvo o amante que o vendeu”.
(Canção final de Fígaro, na obra “As Bodas de Fígaro” de Beaumarchais).
Talvez por conta de que toda vez que eu olho para essa canção a palavra “ciumento”, me passa em mente a palavra “jumento”. Eis um assunto que sempre quis escrever, mas sempre me incomodou o suficiente para nunca ousar algumas palavras. Todos passam por situações nas quais o sangue realmente ferve, a ponto de escutarmos as borbulhas, e certamente o ciúme é o melhor exemplo dentre todos os exemplos. Mas o que é o ciúme? Puro sentimento de posse? Mas quem é de quem? Ou melhor, posse do que?
Namorados se enciumam de perder o ser enamorado por qualquer coisa, seja outra pessoa, seja por uma outra história, seja por um trabalho, ou simplesmente por disputar com a vida do companheiro, alheia a nossa. Todas as cenas de ciúmes são, por mais divertidas ou excitantes que possam aparentar, idiotas. E o calar é algo que realmente não satisfaz. Ter o bom juízo de aguardar, de não ser enganado pela cólera, causa uma dor tão angustiante que a cena enciumada sempre encanta primeiro a nossa saliva. E a dor é tão grande, que em tão pouco tempo estamos, em nome de algo que não existe, por conta de um sentimento que é idiota, ofendendo, machucando, tanto a nós mesmos quanto nossos amores. Um sentimento de tamanha idiotice, que reduz a todos a um só idiota. E há aqueles que se incomodam quando sua amada não se enciuma. Diz que não está dando a devida devoção ao amor outrora doado. Este então é idiota duplo, está cego de ciúmes, e sua cegueira quer furar o olho do ser amado.
Porém, não ser idiota é algo muito complicado. Afinal, quem quer ter juízo numa paixão completamente ardente e desajuizada? São antagônicos demais. O ser idiota é composição obrigatória para quem ousa se apaixonar. Ou torna-se um idiota e remói-se de puro ciúme, ou se contorcerá por estar solitário e não saber como é amar alguém. Enciumados, idiotas, de todo o mundo: uni-vos!
2 comentários:
por que alguem que não ama se contorcerá ?;-)
Não gosto de pensar que ao nos apaixonarmos nos tornamos idiotas, talvez um pouco menos racionais, pois nesta hora quem manda é o coração, o sentimento e torna-se difícil controlar algo sentido, que varia de acordo com gestos e feições de alguém de que gostamos, apenas de olhar o ser amado o coração pula e o sangue corre mais rápido, não controlamos este tipo de coisa.
Mas devo admitir que o ciúme exagerado, destes que geram cenas de guerras homéricas onde a mulher se descabela o homem grita e a outra pessoa se encolhe, deve de fato ser tratado em um consultório médico.
Apesar de ser normal sentir ciúmes quando se gosta de alguém, não aquele ciúme que remonta à posse da outra pessoa, posse até mesmo sobre a vida do outro; mas de fato quem gosta, quem se apaixona sente algumas potinhas de ciúme sim, mesmo quando se está extremamente seguro da sua relação, de que tipo de relação se tem com o outro, mesmo assim o ciúme aparece, daí vai do ciumento saber dosar o que é zelo e o que é desejo de posse e controle sobre o outro.
Também não é regra, existem algumas pessoas que não sentem ciúmes, não sei como isso é possível mas de fato existe e isso não quer dizer que não exista amor, paixão neste ser aciumado; o fato do parceiro cobrar o ciúmes do outro é pura insegurança, necessidade de autoafirmação, ou seja, necessidade de crescimento e amadurecimento dos seus sentimentos.
Eu sou uma pessoa que sente ciúmes, como outra qualquer, mas aprendi a controlar este sentimento, evitando dor e discussões desnecessárias.
Agora não gostei do termo "idiota", talvez fiquemos assim, mas o termo me parece um tanto agressivo ao compará-lo com um momento de paixão.
E de fato uma vida sem paixões e amores é uma vida em branco, não saber o que é sentir a mão esfriar e o rosto corar quando se aproxima do ser amado deve ser triste.
Se todos conseguissem amar mais, a vida não seria tão dura, tão séria, seria mais divertida, ou como você disse, mais cheia de idiotices!!!!!
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