29 julho 2009

Os "Adões" do Movimento Estudantil Paranaense


Se não me engano, foi Heitor Cony quem comparou os palpiteiros de política ao bíblico Adão. Afinal, coube a esse personagem do livro de Gênesis dar nome às criações do Senhor. E assim, sem ter a menor compreensão de cada coisa, foi colocando os nomes aos bichos, às plantas, e assim por diante. Uma excelente analogia, digna de um grande escritor.

Sem maiores esforços, identificamos os mais inúmeros Adões não apenas em política, mas em praticamente tudo. Estão eles palpitando sobre futebol sem ter a menor noção de tática ou de condições físicas de cada atleta; sobre bolsa de valores sem ter investido um centavo sequer em ações; até, e aos montes, perigosos palpites sobre diagnósticos e profilaxias médicas.

A coisa escangalha de vez quando tal conhecimento adônico é usado para defender ideias ou atacar outras opiniões. Fica um tal de “você me chama de imbecil, quando quem o é és tu por não concordar comigo” que, sinceramente, remete aos tempos de infância, e não ao sério debate sobre opiniões e atitudes.

Foram esses os pensamentos que me passaram ao ver o sítio do Movimento Oxigênio, do movimento estudantil paranaense. Veementes anticomunistas, orgulhosos em se autodenominar neoliberais e verdadeiros democráticos, basta lermos algumas de suas linhas para se notar que pouco compreendem tanto de comunismo, de anticomunismo, de neoliberalismo, e muito menos de democracia.
Para que este que vos escreve não se torne mais um Adão conforme acima descrito, irei comentar, por hora, somente sobre o que eles publicaram sobre os acontecimentos recentes em Honduras intitulado “Entendendo a crise em Honduras”.

Um fenômeno como um golpe armado para que se impeça que a própria ordem interna delibere sobre seus problemas é algo inadmissível mesmo nas democracias mais imperfeitas da América Latina. É o que motiva a inédita posição dos Estados Unidos de condenar um golpe de direita na América Latina. É o que fez com que a OEA expulsasse Honduras de sua organização devido o seu princípio de não-aceitação de Estados-Membros sob regime autoritário. É o que faz com que Venezuela e Colômbia, Brasil e Peru, Estados Unidos e Cuba, citando extremos em matéria de suas organizações internas, condenassem uníssonos o golpe em Honduras.

O que é a ordem constitucional senão uma formulação emanada pelo povo? E, no caso da Constituição Hondurenha, que não é fechada, um plebiscito é legítimo para que partes da Carta Magna sejam alteradas. O Congresso hondurenho não pode mexer na estrutura eleitoral em um espaço de tempo de 180 dias antes ou depois da data da eleição, mas um plebiscito poderia demonstrar a vontade popular sobre essa alteração. Foi justamente o que não aconteceu devido uma ação golpista.O processo democrático foi tomado das mãos do povo em detrimento a um grupo do qual a alternância de poder não é aceita pacificamente.

O movimento oxigênio deve ser respeitado no movimento estudantil paranaense por representar uma parcela dos estudantes desse Estado, ainda que em sua minoria. Porém, em sua ânsia anticomunista de ser contra qualquer manifestação antiliberal, provoca desrespeitosamente a todos que não concordam com a sua posição. Chegam a conceituar, em outra publicação, os comunistas de estúpidos ou mal intencionados, em argumentação de soma zero. Além de inúmeras manifestações de ódio, intolerância, e total falta de senso democrático em cada uma de suas publicações. E, no que se refere sobre o que aconteceu em Honduras, passa longe dos ideais democráticos e da análise fria dos fatos. Partem em uma denúncia contra o bolivarianismo de Hugo Chávez, e chama o legítimo presidente eleito Zelaya de ditador, quando o seu exílio forçado demonstra justamente o contrário. Sequer analisam dentro da própria ótica neoliberal, que dizem defender, os efeitos corrosivos de se permitir um golpe de estado na América Latina em tempos atuais, ainda que esse seja favorável aos governos mais neoliberais.

Não é a primeira vez, e espero que nem seja a última, que grupos como esse aparecem no movimento estudantil. Todos chegam, provocam, constroem algumas coisas, incomodam os que já estão, e logo somem. E, como sempre, são Adões debutantes entre a juventude já engajada, palpitando sobre tudo sem a menor noção do que sejam as coisas que apontam apondo nomes.

22 julho 2009

Paulo Moreira: Presidente da UPE!


Foto: (Blog do Esmael) Ocupação da Assembleia Legislativa do PR em contra a privatização da COPEL.

O atual presidente da UPE herdou uma entidade em sérias dificuldades financeiras e políticas. Financeiras, pois o apoio para as atividades estudantis no Paraná ainda é um dilema na vida das lutas acadêmicas. A entidade não recebe contribuição deduzida em folha salarial, pois a UPE não é sindicato e nem estudante recebe salário para estudar. A renda oriunda das carteirinhas estudantis são sempre insuficientes para uma entidade que representa mais de 400 mil estudantes, sendo apenas a garantia de independência da entidade na captação de recursos. E mesmo assim, a entidade não desenvolveu ainda um eficiente sistema de arrecadação, confecção e distribuição dessas carteirinhas. Soma-se ainda a dificuldade em se captar recursos que a própria luta estudantil provoca, afinal estudante no Paraná ainda é visto como um problema e não como parte da solução dos problemas que afetam a juventude. Isso faz com que parte dos recursos captados venham por meio de contribuições pessoais, e na maioria dos casos de ex-dirigentes do próprio movimento estudantil e que hoje ocupam algum lugar de destaque na política paranaense.


Entre as dificuldades políticas, Paulo recebe uma entidade do qual sua diretoria não é composta de acordo com a representação atual do movimento estudantil do Estado. Disputa-se a política no movimento estudantil paranaense da seguinte forma: internamente são duas forças gigantes, que são PCdoB e PMDB, um PT que tangencia a grandiosidade somente se juntar suas tendências internas, e uma boa quantidade de forças minúsculas, dentre elas, DEM, PSDB e PSOL. Porém, o PMDB se retirou do congresso, desfalcando significativamente a entidade.


A maior dificuldade política não reside, porém, na difícil composição da diretoria. Reside em um movimento estudantil que possui poucos centros acadêmicos organizados e em funcionamento, em um número enorme de universidades que não possuem o menor interesse em contribuir com a democracia e ouvir a voz dos estudantes, e uma descrença generalizada na política que a maioria dos universitários nutrem diariamente. Além de ser essa gestão a que terá a missão de obter o compromisso por parte de todos os candidatos ao Governo do Estado e Parlamentares com as lutas estudantis.

Diante de tamanhos desafios, a gestão de meu grande amigo Paulo será, provavelmente, de extremos: ou será um grande fracasso ou entrará para história como a melhor de todos os tempos. Aposto na habilidade do meu amigo em re-estruturar o movimento estudantil pela base, investir principalmente na construção e fortalecimento dos centros acadêmicos, contribuir para o fortalecimento das forças políticas do próprio movimento, e solucionar as dificuldades financeiras que a entidade enfrenta e que não é segredo para ninguém.