É bem sabido que o movimento estudantil é vítima de suas próprias veleidades, ora prepotente em momentos críticos, ora imobilistas diante os desafios. Mas também é sabido que, politicamente, é legítimo pensador e agente de mudança nacional, com organização que por inúmeras vezes dá aulas aos professores no que diz respeito à unidade, democracia, debate e compromisso coletivo. Porém, o estudante não é, para infelicidade dos militantes da quarta internacional de Trotsky, uma classe social por si só. Nem, para infelicidade dos reformistas sociais, um cliente especial de um crédito presente para as ações futuras. O estudante é parte de uma estrutura estratégica determinante para o desenvolvimento de qualquer nação. Suas aspirações concretizam, "in momentum" e "à priori", através de sua universidade, escola, pesquisa, extenção, pós-graduação, corpo docente, atuação profissional, rendimento e produtividade acadêmica, e em suas representações políticas. O estudante se organiza, portanto, em torno daquilo que ele vê que pode renovar socialmente, preenchendo funções numa complexa estrutura que transpassa da biritinha depois, às vezes durante é verdade, das aulas até questões de ordem internacional e nocivas para tão somente à partir das próximas cinco gerações . E a sua organização deve ser, antes de tudo, um agente conscientizador da realidade política que consiste cada relação de anseio, necessidade, contra as adversidades e dificuldades.
Nessa imensa estrutura, existem os atores-chave da organização estudantil: os militantes. Geralmente presos a uma fantasiosa e, atualmente pueril, imagem de mártires da luta guerrilheira em pleno solo acadêmico e sem trocas de tiros ou calagens de baionetas e fuzís. Ele, invariavelmente, ainda é a velha figura do sujeito estranho, de roupas e higiene corporal questionáveis, cabelo mal cuidado, que mal consegue ficar em sua sala de aula pela necessidade de ser abnegado, obstinado sacrificador de suas oportunidades até os últimos cartuchos. Como a rotuladora massificação midiática já classificou o militante enquanto membro de uma "tribo", membro de uma turma que escuta a mesma coisa, consome a mesma coisa, fala do mesmo jeito, e mora isolados da sociedade por pura necessidade de identidade, muitos fabricaram em suas mentalidades absurdos como a aversão ao dinheiro, não importando o grau de pureza de sua origem, a aversão à ascenção social, a aversão em dialogar entre todos os agentes sociais, todos os atores sociais, especialmente os eleitos pelo povo para representá-los. Mas acabam optando em impôr para as ruas passeatas sem mobilização de baixo para cima, das bases para às massas. Encastelam-se em suas paredes com pôsteres de ídolos do século passado, geralmente gringos, e bombardeiam a sociedade com o que acham que é o anseio estudantil, pois não sabem ao menos consultar as bases estudantis para saber o que realmente sentem, querem e exigem.
Agora, o corolário da dialética exige que expliquemos o que faz o movimento estudantil ser tão importante e preciso nos momentos mais críticos da sociedade. É justamente aqueles que vão na contramão daquilo descrito no parágrafo anterior. Ainda abnegados, porém críticos quanto a sua postura militante, conscientes de seu papel político, liberto dos vícios e das amarras de um conservadorismo imposto pela própria academia. E, acima de tudo críticos da realidade. Não buscam se equiparar aos homólogos militantes da visão descrita acima, pelo contrário, compreendem que do sacrifício inteligente conquistam poderes reais para sua entidades estudantis. Que do desencanto trágico que os estudantes possuem da política e da capacidade de mudar a sociedade, são capazes de trazê-los ao engajamento político, ainda que restrito à sala de aula e na eterna luta do confronto de gerações representado pela tacanha visão professor soberano e aluno "alumni". Conscientes de que além do esforço de estudar, de ler até os olhos sangrarem e escrever até calos substituírem dedos, o estudante tem a obrigação de compreender que a educação está aquém das necessidades do país, que sua qualidade é questionável, que sua formação é banalizada, e que seus pedidos e reclamações são fruto da realidade política e econômica do próprio mundo e seu excludente sistema social. Críticos da situação de impotência que o estudante se vê quando não se enquadra mais no protetorado de seus pais e o país não lhe dá o devido respeito, sabendo que essa impotência não está isolada do contexto social. E tudo isso tendo que convencer estudantes "anti-estudantes", que se somam aos "anti-estudantes" de todos os extratos sociais, e fazê-los compreender que essa é a realidade do Brasil e que são capazes de mudá-lo.
O movimento estudantil precisa, urgentemente, amadurecer. Compreender que é necessário sair da sua defensiva histórica e partir para uma ofensiva que seja capaz de implementar as antigas bandeiras de lutas e criar novas, atuais, e tão necessárias quanto. Criar mecanismos que habilitem o poder de suas entidades representativas ser válido, respeitado, e não mais isolado num canto qualquer das instituições de ensino e unicamente patrocinadores de biritinhas e jogos de integração. Reestruturar seu sistema de acompanhamento das bases, conjuntamente com o esforço de reestruturar a organização de base. Ampliar o debate representativo para todas as áreas existentes, quebrando com a nociva lógica de briga eleitoral e a fabrica de militantes "anti-estudantes". Não temer conversar com autoridades, isso por si só não irá vender seus compromissos e nem seus princípios. Bem como não temer tratar finanças, não temer o dinheiro. Ele, também por si só, não corrompe ninguém, mas a penúria faz com que muitos entreguem os pontos.
A União Paranaense dos Estudantes e a União Nacional dos Estudantes, com essa reflexão, propõe ao conjunto do movimento estudantil justamente essa reflexão. 2008 será um ano relativamente curto, de um primeiro semestre velocíssimo e um segundo tumultuado. Mudar a política para mudar o Brasil será seu mote, e fará a lição de casa, mudando seu próprio movimento estudantil. Enfim, pela primeira vez em uma década e meia, estou novamente otimista.
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