O sentido histórico de um povo é perceptível nos fatos mais importantes e essenciais da sua formação em um determinado período de tempo. Esse sentido histórico determina a sua orientação. E esse sentido histórico pode se alterar sob a influência de profundas transformações internas bem como sob o efeito de ações externas de forte impacto social interno. O primeiro sentido de nosso povo, o povo brasileiro, foi o de ser colônia de Portugal, ou seja, o de ser fornecedor de açúcar, tabaco, especiarias, para a Europa enquanto uma sucursal lusitana. E assim foi por durante séculos. Após, manteve-se o sentido de fornecedor de produtos para a Europa, agregando-se também a de ser base do comercio de escravos. E, ambos os sentidos de nosso povo permaneceu imutável durante longos três séculos, dos cinco de nossa vida. Não há como dizer que, mesmo que o sentido histórico em dias atuais tenha se modificado, três séculos com toda uma formação enquanto povo servil a esse sentido histórico não tenha influenciado nossos dias atuais. Afinal, de acordo com o método marxista, a história é um processo, ou seja, os fatos passados se relacionam e se fazem existentes no presente, e ambos servem de base para se chegar a um futuro.
Em dias atuais, o sentido de nossa produção continua sendo o de fornecedor externo. Produzimos para o consumo externo, e não há equilíbrio algum com o consumo interno. O neoliberalismo, no que cabe ao Plano Real, incumbiu ao nosso sistema econômico a manutenção do sentido histórico de produzir para fora, desequilibradamente em relação ao consumo interno. Um dos pilares de sustentação de nossa economia é justamente o chamado comprometimento com as metas de superávit primário. Ou seja, não somente nossa produção é hegemonicamente voltada para o consumo externo, mas como o recolhimento fiscal também o é em nome de manter as dívidas em níveis controláveis. Esse tipo de economia impede a formação de bases nacionais fortes, igualmente tempos coloniais onde essa não formação era explicitamente defendida pela Coroa portuguesa. E o resultado histórico disso é a de uma nação submissa aos interesses internacionais, pois sua estrutura não permite nem mesmo o fortalecimento de suas bases nacionais.
Se deve existir alguma palavra de ordem em dias atuais para que se mude os rumos históricos, e assim criar o sentido histórico ao povo brasileiro de ser livre e soberano, este deverá ser o de fortalecer as bases nacionais. Essa palavra de ordem se torna complexa ao se aplicar a todo o nosso sistema econômico e político. De nada adianta uma aceleração de nossa economia, se essa está comprometida inteiramente ao consumo externo. Nossa produção é para o exterior e nossa arrecadação pública é também. Acelerar a economia com a mesma estrutura econômica irá aumentar os valores de pagamento da dívida internacional, e não na aplicação direta no fortalecimento das bases nacionais. Deve-se acelerar a economia, nisso o PAC é muito bem vindo, mas se não for alterada a estrutura econômica de nosso país, será mais uma idéia fantástica mas impraticável demais para ser implementada em curto e médio prazo, igualmente com a há muito tempo estacionada Reforma Universitária.
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