24 dezembro 2006

Último papo de cozinha de 2006!

“Casca de ferida, goteira na vasilha, problemas na família, quem não tem?” (Chico Buarque).

Na fulô ou na filó! Papo de cozinha de fim de ano. Antes de mais nada, desejando a todos um natal fabuloso e inesquecível. Já para o ano de 2007 desejo muitas atribulações para todos, mas com aquela certeza de vitória.

O sal da vida é a dificuldade. Tempera o ânimo e nos extasia a sensação de superação. Como haver superação sem dificuldades? Impossível. Já diziam os sábios que, para uma pessoa absurdamente otimista, é impossível ter uma surpresa agradável. Diria até mais, é praticamente impossível sequer ter uma surpresa. Mas é verdade também que, para uma pessoa absurdamente pessimista, é impossível uma surpresa agradável, praticamente impossível ter algo agradável. Portanto, esses mesmos sábios recomendavam que, ao acordar, deve-se imaginar que o dia será mesmo difícil, um verdadeiro inferno. Deve-se sair da cama pronto para enfrentar o pior dia de toda sua vida, todos os dias de sua vida. E, assim, verá no fim do dia, ao meditar, que mais uma vez a surpresa de ter tido um dia ótimo foi mais que agradável; simplesmente perfeito.

E assim é como eu ajo, diariamente, todos os dias do ano. Preparei-me para um 2006, ao término de 2005, como se o mundo realmente fosse acabar entre enxofre e óleo fervente. Mas, para minha alegria, não acabou, pelo contrário, continuou e, especialmente para mim, foi formidável.

Sabia que seria difícil. Em 2006, “aposentei-me” de minha militância na juventude. Mas jamais da luta por um mundo melhor e, certamente, socialista. Mas, precisava mudar minha forma de combate. Sai das trincheiras acadêmicas para me organizar na trincheira do relógio ponto e contra-cheques de fim de mês. Troquei o fuzil de caneta e salas de aula pelo fuzil de mão-de-obra e contra-alienação do trabalho assalariado. Mas, minhas balas continuaram sendo para meus generais, os que nos querem, pela força, canibais. A faculdade, doce sonho, mas também sofreu mudanças significativas. Termino o curso de Filosofia, mas sem colar grau. Farei a colação em outra área, em outra universidade. Guardarei o conhecimento de nossa filosofia para ser aplicada em todos os meus sentimentos, ações e palavras. Mas opto pela formação Secretarial, na Universidade Católica. Esta, para melhor qualificar-me para o concorridíssimo mundo corporativo, e ali forjar minha trincheira, minha labuta e luta.

No amor, estou milionário. Tenho em Carol, amada companheira, toda a fortuna de minha felicidade. Tudo bem que a fortuna material que poderia nos fazer ainda mais unidos, pelo menos na convivência, ainda está por vir. Mas tenho fé que é apenas questão de tempo.

Na saúde, não está perfeita, foi um ano conturbado. Entretanto, tratamentos e consultas que há anos não tomavam conhecimento da existência médica, finalmente virá a tona. Isto me deixa bastante esperançoso, completando meu “carpe diem” com o “mens sana in corpore sano”.

Por tudo isso, e alguns mais que não quis ou não me lembrei de colocar aqui, que imagino que 2007 será bem pior que 2006. Que, por todas as coisas maravilhosas que aconteceram comigo não existirão em 2007. Que aquele inferno de enxofre e óleo fervente estará ainda mais quente no ano que virá. E, justamente por todas as coisas boas que aconteceram em 2006; estou pronto para o que der e vier para o ano que virá.

Para mim, e para todos e todas. Feliz natal. E um 2007 cheio de dificuldades para todos nós. Mas, principalmente, pela superação e vitória sobre todas elas.

Ósculos e amplexos. E até 2007.

17 dezembro 2006

"Vibra, ó Brasil inteiro, o clube do povo do Rio Grande do Sul"


Parabéns nação colorada, campeã mundial!


Abel Braga, logo após o jogo, disse uma frase que, para mim, sintetizou o sentimento de todo brasileiro (exceto aquele que for gremista): - “ganhamos do melhor time do mundo!”. Sim, e com louvor! Não sou gremista, mas amanheci nesse domingo torcendo para o Barcelona. Não sou de me impressionar com os chavões televisivos, muito menos o do insistente “Inter é o Brasil no Mundial Interclubes da FIFA”. Meu senso crítico me impulsionou a torcer, no início, pelo time que possuía o melhor elenco, as melhores táticas, enfim, o melhor do mundo. Mas essa torcida pelo FC Barcelona durou exatamente quinze minutos. Pato, o menino de sorriso metálico, disputa uma bola com um dos poucos espanhóis do time espanhol e, mesmo com nítidas diferenças técnicas com superioridade para o espanhol experiente, Pato ganha a bola naquilo que é sempre o meu segundo critério de torcida: a raça! E, assim, passei nesse exato momento a torcer desesperadamente pelo time riograndense.

O colorado gaúcho me impressionou por isso. Respeitou o adversário, o poderoso adversário, mas sem temê-lo. Encarou-no de igual para igual. Fez uma marcação que assemelhava um jogo de xadrez. Compensou a disparidade técnica com a inteligência. Anulou praticamente todas as habilidades dos armadores do time adversário. Marcou em todo o campo, inclusive no de ataque. Sobreviveu à poderosa decida de Ronaldinho e companhia. Superou a também forte marcação do Barcelona. Deu sangue pelo time e, numa das pouquíssima oportunidades que um jogo tão bem marcado dá de se fazer o gol, Adriano recebe um passe difícil, corrige e mostra competência mandando por sobre o goleiro e marcando para o Inter. Uma expressão e um grito saíram involuntariamente da minha boca. A expressão de “ui”, quando a mão do goleiro do Barça esbarra na bola, e, óbvio, o grito de gol, como se eu fosse colorado desde criança.

Depois disso, o jogo ficou mais franco ainda. Tivemos, com o nervosismo do Inter, finalmente um gostinho do que é o Barcelona. Foram quinze minutos onde o Barcelona quase marcou duas vezes, uma salva pelo Clemer, e outra que a bola tomou um rumo caprichoso na cobrança de Ronaldinho. Ali, pudemos ver de quem o Inter estava ganhando mesmo. Simplesmente do melhor time do mundo. E, o futebol agradece, o povo brasileiro agradece que a raça ainda continua superando a técnica. E quando ambas estão presente num mesmo time, ainda que o outro seja mais técnico, a raça faz diferença e desbanca. Não duvido que, em seu íntimo, boa parte da torcida gremista também não tenha se emocionado ao ver aquele time vencer o melhor do mundo. Mas, querer que o tricolor gaúcho reconheça isso é impossível, e também desnecessário. Não basta ser o melhor, para ser campeão é preciso ter um algo a mais que compense. E, quem teve isso foi, para a glória brasileira, o Inter, a “Glória do desporto nacional”.

13 dezembro 2006

Sobre o artigo do Anexos

Meu camarada Marc, em seu blog “Anexos”, fez um texto muito interessante chamado “A crise da aviação no Brasil”. Como o espaço para comentários no blog é sempre bastante limitado, resolvi comentar o artigo em questão pela Cozinha, onde terei o espaço que eu quiser. Aliás, para aqueles que interessam por textos inteligentes, e com certo grau de sarcasmo, “Anexos” promete ser um blog presente entre os Favoritos.

Francamente, sustento o posicionamento dos mais incrédulos: de que a imprensa, junto com as camadas mais conservadoras da sociedade, buscam, de imediato, um bode espiatório para o caso do maior desastre aéreo na história do país do pai da aviação. Qualquer um que já assistiu um programa chamado “Desastres aéreos”, da Discovery, pode afirmar o quanto se demora, em uma investigação detalhada como a que se exige de um acidente deste porte, obtenha resultados, ao menos, satisfatórios. E, além disso, existe uma regra para os especialistas em aviação de que “é mais fácil um raio cair duas vezes num mesmo lugar que dois acidentes aéreos possuírem o mesmo motivo”.

Deixemos por um momento de lado a discussão técnica, que definitivamente, para mim, é super limitado. Analisemos o comportamento dos formadores de opinião. Primeiramente, o número de atrasos nos vôos domésticos em dias atuais estão dentro da normalidade para esse período do ano, aliás, esse é um período em que é costumas aviões atrasarem, em média, cerca de uma hora, e até duas em horário de pico. As conexões passam a ser mais elásticas, prevendo possíveis atrasos. Por exemplo, um vôo Curitiba-Belo Horizonte, com conexão em Guarulhos, fora de temporada, costuma ter vinte minutos entre o horário de chegada de um e o embarque de outro. Nessa época do ano, esse tempo de espera se dilata em mais de uma hora. Quem sabe o inferno que é uma espera por conexão sabe também que não é de hoje que viajar em temporada alta é sinônimo de atrasos, aborrecimentos, e ainda por cima de tarifas mais caras.

Porém, a busca de um bode espiatório é também tão costumas quanto as milhares de explicações fajutas que as comissárias de bordo dão quando o cafezinho acaba. A chamada “crise” no sistema aéreo brasileiro vai afetar o preço das passagens de ônibus. O que antes foram forçadas a se manterem baixas devido a concorrência com os meios aéreos de transporte, encontraram seu argumento ideal para elevar e muito seus valores. A privatização do espaço aéreo brasileiro já encontra fortes argumentos. E por aí vai. Já há economistas calculando milhares de dólares de prejuízo, elegendo tal crise como o apagão do “bode” predileto do pensamento conservador: Lula.

E o mais interessante: a solidariedade para com as famílias das vítimas do maior desastre aéreo do país desapareceu. Só, claro, sendo lembrada para argumentos aos bodes dos mais conservadores. Santos Dumont deve estar se remoendo de ódio em seu túmulo.

02 dezembro 2006

América Latina e o congresso da UNE.

O que acontece com a América Latina, mais precisamente com a América do Sul? Está até parecendo congresso da UNE!

Este texto não possui nenhum tom de chacota. Quando me refiro ao congresso da UNE, refiro-me a alguns aspectos que me soam similares à conjuntura latino-americana. Primeiramente pela característica de que, em ambas, a união e a integração são hipóteses, mas o fato é a fragmentação. Segundo, pela característica da forte presença dos setores da esquerda.

Mesmo em idos tempos em que a totalidade, praticamente, latino-americana era governada por setores de extração liberal e, em alguns casos, claramente conservadores e de direita nacionalistas, a idéia de integração é somada ao comum pensamento dos governadores eleitos, ou impostos. Agora que as contradições neoliberais demonstram a velhacaria dos partidos conservadores, temos uma mudança de pensamento significativa nos governos latino-americanos e uma renovação da idéia de integração, porém renovação claramente no sentido popular e de fortalecimento latino-americano. A eleição de Bachelet, no Chile; a reeleição de Lula no Brasil; a certa reeleição de Chávez na Venezuela; a eleição de Vasquez, no Uruguai; a eleição de Morales na Bolívia; a eleição de Daniel no Equador; demonstram o esclerosamento das forças conservadoras e a ascenção das forças populares mais progressistas, ainda que estas forças não se organizem necessariamente em partidos ideológicos. Indo mais além, até mesmo nos países onde os conservadores se mantiveram no governo, como o México, não foi com tranqüilidade. Nesse país, tivemos um empate inédito, e bastante contestado inclusive. Se compararmos com a União Nacional dos Estudantes, que também já teve, em seu histórico, momentos em que representantes do pensamento conservador dirigiam a entidade. Em um certo momento, as forças progressistas foram substituindo de tal maneira as conservadoras que, hoje, o que vemos, é praticamente uma unanimidade a presença forte e marcante das forças progressistas no cenário congressual. Ainda que estudantes conservadores se façam presentes em todos os congressos, porém com força bastante diminuta; podemos comparar tranqüilamente com a América Latina.

Diferentemente da UNE, que passou sufoco pelas repressões, militares e neoliberais, e por isso tem seriíssimas dificuldades políticas e financeiras; essas dificuldades na América Latina são também causadas pelo sufoco devido à incapacidade das lideranças tradicionais em conduzir a política e a economia dos países latino-americanos. A coisa piora quando, na década de 80, iniciam-se as transformações mundiais operadas pelo neoliberalismo, e o atraso latino-americano nas reformas econômicas necessárias foi algo notório. O que vemos hoje é, senão um sinal claro de repúdio ao neoliberalismo, um repúdio popular às forças conservadoras. Fernando Henrique Cardoso acerta em dizer que o PSDB perdeu suas raízes, mas não no que diz respeito às bases populares como ele afirmou; mas no que diz respeito ao de sempre transitar no caminho do poder.

Com a notável exceção do Chile e do Brasil, talvez um pouco do Uruguai, o cenário político latino-americano ainda é de incerteza democrática. As estruturas políticas são débeis no quesito legitimação. E, quanto mais atrito há para que o processo de transição das forças conservadoras para as progressistas aconteça, mais intensa é a postura de radicalização de seus governantes. É exemplo notório a Venezuela, que depois do golpe de direita e do contra-golpe popular, fez com que Chávez radicalizasse sua postura para o que ele chama de “construção do socialismo do século XXI”. Bom exemplo também consiste nos governos de Bachelet e Lula. Ela, de origem ideológica socialista, ele, de origem ideológica social-democrática de esquerda; são justamente os que terão de ter condutas menos radicais, mais de coalizão. Pois a estrutura política conservadora nesses países é bem consolidada. Ou seja, se não for por meio revolucionário, pode colocar o camarada Aldo Rebelo na presidência que um Brasil progressista não acontece.

Resta saber se a integração latino-americana, daqui para frente, vai seguir uma pauta mais construtiva ou se vai enveredar pela experiência da UNE, ou seja, diversas forças progressistas na gestão, mas quase nada de integração, nem mesmo naquilo em que é comum na estratégia de suas organizações. Encerro com um pensamento de Engels: “o socialismo começou como um movimento burguês; depois que surgiu o comunismo, de características absolutamente contrárias, nunca mais os socialistas foram convenção uníssona”.

Uma outra América Latina é possível, e será socialista!

Ósculos e amplexos.

01 dezembro 2006

Com vocês: a sapiência de Rachel Genofre.

Hoje fui até a escola de minha filha. Além daquelas obrigações básicas, verifiquei os trabalhos e provinhas dela ao longo desse ano. E fiquei impressionadíssimo com alguns belos exemplares de sapiência de uma mulher de apenas sete anos, nos bancos da segunda série. Ei-los:

Pergunta: "O que é amizade?"
R: Amizade é ter amigos.

Pergunta: Descreva o desenho: um menino chutando uma bola.
"Era ma vez um menino que chutava uma bexiga. Enquanto ele sorria chutando a bexiga, Lino, chorava por ver sua bexiga ser chutada". (as pontuações foram apostas pela professora).

Pergunta: Faça um bilhete para seu pai.

Pai.
A professora mandou que o senhor fizesse uma redação para ela. Mas, veja bem o que o senhor vai escrever porque o senhor é mais inteligente que ela e ela é capaz de não entender nada. Assinado Rachel. Curitiba, quinta-feira.

Pergunta:

Escreva, em ordem crescente, os números de 1 a 100.

Resposta: em ordem crescente, os números de 1 a 100.

Pergunta:

João tinha 6 balões, tinha que dividir entre seus dois amiguinhos. Quantos balões foram dados para cada um?

Resposta: Depende, o João fica ou não com balões? Se não ficar com nenhum, três para cada um.



Te amo filha!