03 março 2015

Novela e crianças.


Esse texto surgiu à partir de um exercício de teatro que consistia em apresentar argumentos sobre temas variados de maneira compatível. Explico: diante de uma pergunta, o ator ou a atriz deveria responder de maneira tal que conseguisse manter a atenção de uma turma inteira, expor sua opinião rapidamente, de maneira objetiva e com bom desenvolvimento dos argumentos. Dentre várias perguntas, a que provocava uma reflexão envolvendo novela e criança foi a que mais rendeu polêmica. A pergunta: "você acha que a novela pode prejudicar a formação de uma criança?"

Em respeito às minhas e aos meus colegas, não apresentarei aqui no meu texto quais foram as opiniões contrárias às minhas. Tampouco minha avaliação quanto aos argumentos dados. Apenas apresentarei minha opinião com mais tempo e um pouquinho mais de referências e fontes. 

Que a televisão é capaz de influenciar uma criança é fato tamanho que simplesmente não encontrei nenhuma pesquisa que sequer mencione a possibilidade do contrário. Diante da constatação de que a televisão é capaz de influenciar muito uma criança, destaca-se o riquíssimo debate que há sobre a consideração de que toda propaganda para criança deve ser considerada abusiva. Aliás, já reparou que o intermediário responsável deixou de existir nas propagandas de produtos infantis? Antigamente, dizia-se "papai, mamãe, não se esqueça da minha Caloi" ou "peça para o papai e para a mamãe as bonecas da Estrela". Hoje, a própria criança é tratada como consumidor final. Nenhuma empresa investiria milhões de reais em propaganda na televisão se não influenciasse todo um público. 

Se as novelas são tão influentes, bem como os esportes, os programas de auditório, e os programas de humor, podem elas influenciar na formação psicológica e no desenvolvimento psicossocial da criança. No caso das novelas, destacam-se mais aquelas que atingem grande impacto na sociedade seja por sua trama ou seja por uma determinada atitude polêmica explorada pelo argumento da novela. Uma trama que conquista todo um país, repercutindo por vezes internacionalmente, ainda que visivelmente voltado para um público adulto, estimula inúmeros comportamentos que acabam sendo reproduzidos pelos mais jovens - especialmente aqueles que não possuem capacidade de filtrar ou criticar os conteúdos do que assistem. E o que falar das chamadas novelas infanto-juvenis como "Carrossel", "Chiquititas", e "Malhação"? Ainda que suavizem ou mesmo não abordem conteúdos de cunho mais adulto, acabam inevitavelmente influenciando comportamentos que são incompatíveis com um desenvolvimento normal de uma criança em ambientes como a escola, o clube ou o parquinho. 

Sim, as novelas podem ser prejudiciais na formação de uma criança. Elas tem por hábito repetir comportamento e situações, principalmente aquelas em que há consentimento ou que receba boa atenção de seus pais. E como a própria televisão não fornece contrapontos para afirmar que determinadas atitudes são inadequadas - até porque não é papel da TV - a reprodução de comportamentos inadequados com a etapa de desenvolvimento da criança certamente prejudicará a formação da criança. 

É claro que uma criança que só assiste a programas educativos terá sérios problemas de socialização com outras crianças. Se adulto (como eu) que não assiste novela já possui dificuldades em socialização com outras pessoas, imagine uma criança que não possui assimiladas outras fontes que sejam capazes de estimular uma conversa ou mesmo proporcionar inclusão a um grupo social. A saída é uma formação que estimule a crítica, ou seja, que valorize na criança sua capacidade de discernir o certo do errado, o que ela deve considerar bom ou ruim para ela. Mas isso é assunto para outra postagem. Para essa, fica somente o argumento de que sim, as novelas podem prejudicar uma criança. 

Ósculos e amplexos!

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