29 setembro 2009

Estados Unidos na contramão da democracia.


Estupefato! Não conseguia ouvir ou ler as notícias de hoje sem essa sensação. Os Estados Unidos, na reunião de emergência da Organização dos Estados Americanos - OEA, através de seu representante diplomático, acusou os países que apoiaram o retorno de Zelaya de irresponsabilidade, além de condenar o próprio retorno do presidente legítimo ao país.

Ao longo da 64ª Assembleia Geral da ONU, todos os países americanos que discursaram em Nova Iorque condenaram o golpe, pediram a volta de Zelaya ao poder, pediram eleições no país, e manifestaram seu desejo de solução pacífica do conflito. Exceto um: Estados Unidos da América. Obama, ainda que aplaudido por representar a mudança na condução política da mais importante nação do mundo, foi o único que absteve-se de comentar sobre o golpe em Honduras. Na reunião do G20, presidida por Obama, pouco avançou em relação ao país. E, na reunião emergencial da OEA, onde o tema não era outro senão a instabilidade hondurenha, finalmente os EUA mostraram que os Estados Unidos continua na contramão da democracia, que continua tratando a América Latina e o Caribe como seu quintal.

A influência americana sobre os golpistas brasileiros não ficou por menos. Sarney, Agripino, lideranças de oposição, quando não chamaram a postura brasileira de defender o governo legítimo de Honduras de infantil, chamaram-na de amador. Miriam Leitão, que ainda verei um dia falando sobre futebol, soltou duas péssimas considerações sobre a posição brasileira no caso. A primeira, a de que o Brasil rompeu relações diplomáticas, mas é incoerente por manter sua embaixada aberta em Honduras; e que o Brasil se posicionou contrário ao embargo hondurenho aos veículos de comunicação de oposição ao golpe, quando praticamente aplaudiu quando Venezuela fechou o equivalente à Globo em seu território.

Não falo sobre a credibilidade (ausente) de Miriam Leitão, mas sobre o símbolo que ela representa: o pensamento editorial do PIG (Partido da Imprensa Golpista - termo criado por Paulo Henrique Amorim). Primeiro, segundo os tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário sobre representação diplomática e relações consulares, o fato de não reconhecer um país não fecha uma embaixada, apenas retira o canal de diálogo entre os governos. Mas a embaixada representa o povo brasileiro residente em Honduras, portanto, não se trata de nenhuma incoerência. Segundo, jamais pode ser comparado o que houve em Honduras com o que houve na Venezuela. Nessa, houve um golpe por parte da burguesia e oposição ao presidente Chávez, e um contra-golpe por parte dos trabalhadores que devolveu o país ao comando de quem a maioria do povo legitimamente elegeu. Segundo, na Venezuela, Chávez não renovou a consessão da emissora que Miriam Leitão referiu, o que provocou seu fechamento. Já em Honduras, o que aconteceu foi um governo ditatorial que ocupou dois veículos de comunicação à força, censurando-as, fechando-as, após declarado Estado de Sítio.

O representante brasileiro na OEA falou o que deveria ser transmitido em massa: sem o apoio dos Estados Unidos, na contramão da democracia, esgotam-se as possibilidades de solução do conflito em Honduras pelo caminho do diálogo. Sem uma ação mais incisiva dos países da América Latina, o passado odioso de golpes e autoritarismo irá abalar a credibilidade do Continente. Não apoiar o retorno de Zelaya ao poder, com a condição de novas eleições em regime de urgência, será condenar um povo inteiro à barbarie, ao fim da democracia.

Ósculos e amplexos.

28 setembro 2009

A todos e todas, obrigado.


Queridos amigos, queridas amigas!

Obrigado pelas mensagens, e-mails, correspondências, telefonemas, visitas, e comemorações pelo meu aniversário. É graças a vocês que os momentos de dificuldade são superados, os momentos de alegria são bem aproveitados, e o ânimo para ter "aquela mania de ter fé na vida".

São 31 anos, cultivando amizades, carinhos, e tudo isso, por si somente, já me deu recompensas mil.

Amo todos vocês.

Ósculos e amplexos!

26 setembro 2009

Alguns Políticos, Muitos Preconceitos.


Algumas pessoas conseguem demonstrar respeito que possuem pelo cidadão, outras não. Algumas combatem toda forma de preconceito, indo além do mero respeito à Carta Magna. Outras, quando não se escondem sob um falso ar de moralidade, desatam a falar bobagens. André Puccinelli, governador do Mato Grosso do Sul chamou o Ministro do Meio Ambiente, Minc, de "veado e fumador de maconha". E a resposta do ministro foi: "respeitamos a todos, enrustidos e no armário". Pronto: mais uma baixaria para o histórico e ridículo papel de alguns de nossos representantes.

Eu espero que seja uma minoria, ainda que não acredite nisso. Ao longo de minha militância estudantil, preconceitos não faltaram para pejorar a luta dos estudantes. "Muito novo", "muito velho para ser estudante", "inexperiente por ser estudante", "muito cabelo", "pouco cabelo", "mal arrumado", "bem arrumado demais", etc; são argumentos que os estudantes escutam diariamente das mentes mais ou das menos preconceituosas.

No site da juventude tucana, o "ninho tucano", existe um texto "do poliglota ao troglodita", comparando as gestões FHC e Lula. Ainda que o texto aponte para uma conclusão de que não importa a formação ou origem de um presidente, o título demonstra o evidente preconceito. Em resposta a uma pessoa que publicou em seu blog a "escorregada" da juventude tucana, os tucaninhos escorregaram de vez, mostrando ainda mais preconceitos e muita arrogância.

Entre um debate no blog do movimento Oxigênio, os dirigentes desse declararam que o movimento LGBTT não é relevante para o movimento estudantil. E ainda completaram dizendo que eles estão bem com as leis e projetos-lei que existem atualmente para defendê-los. Que os índios são vagabundos, e por aí vai. Ainda que respondendo as provocações de uma estudante anônima, bastante mal educada, segundo eles, por ela não ter culhões para se identificar ou organizar um movimento que a satisfaça politicamente.

Por fim, se eu fosse manifestar todas as manifestações de preconceitos que acabei vendo apenas nos últimos dias esse post não terminaria hoje. São coisas como essas que tentam fazer o país a andar de ré, além de diminuir e muito, no imaginário popular, a importância da política. Coisa para nos indignar, no mínimo, nos lamentar!

Ósculos e amplexos!

24 setembro 2009

Chile e Uruguai na 64ª AG da ONU.

Chile: Michele Bachelet abriu seu discurso dizendo que, ainda que os países pequenos, as mulheres, as crianças, e os perseguidos, não tenham sido objeto de atenção da Assembleia Geral da ONU, são louváveis os esforços pela paz, pelos direitos humanos, pelo direito internacional, e pelo desenvolvimento. E esses esforços ainda não tem sido suficientes para erradicar as injustiças mundiais. Mas, vê com otimismo o fortalecimento das organizações internacionais em direção a um mundo melhor. A crise internacional é culpa da incapacidade dos países e da comunidade internacional de regular e ser transparente em matéria econômica. A crise ambiental é fruto da maneira em que o mundo escolheu para produzir e conseguir energia, além da incapacidade de acordar normas e políticas que visem impedir o aquecimento global. E o mais grave, segundo Bachelet: em pleno século 21 há mais de um bilhão de famélicos, sendo que 50 milhões desses estão na América Latina, e todos ainda são vistos como mera estatísticas. Enquanto o mundo se desdobra para superar a crise financeira, menos de 0,1% do que já foi gasto nos planos de resgate financeiros poderia acabar com a crise alimentar em dezenas de países. E não se pode permitir que, com o pretexto de combate à crise econômica, diminuam-se os esforços para se acabar com a fome no mundo. Criticou o neoliberalismo, que vê o Estado como um problema e não como uma solução. E apoia o pensamento de que a crise econômica foi, na verdade, uma crise dos dogmas do neoliberalismo. Disse que o Chile suportou bem a crise graças a intervenções do Estado, além de uma política econômica acertada e inibidora dos ataques especulativos. Demonstrou apoio à reforma das Nações Unidas e ampliação de seu Conselho de Segurança. Manifestou a tranquilidade política da região, informando que, aos poucos, os países latino-americanos estão consolidando a democracia em todos os seus países. Mas, com pesar, invocou a intervenção, baseada no acordo de San José da OEA, para solução do golpe político ocorrido em Honduras.


Uruguai: o presidente Tabaré Vázquez abriu seu discurso constatando que o período atual possui uma realidade contrastante onde a humanidade teve, simultaneamente, tantas possibilidades e tantas ameaças. Porém, questiona sobre o que se tem feito para dissipar as ameaças e aproveitar as oportunidades. Reiterou o firme rechaço ao uso da força, ao uso do terrorismo, ao narcotráfico, e a todo tipo de violência e discriminação; apoio à solução pacífica dos conflitos, com igualdade soberana dos Estados, livre determinação dos povos, com a cooperação internacional em matéria econômica e social, e ao multilateralismo que abarca também a liberalização do comércio e o combate ao protecionismo; defesa e proteção dos Direitos Humanos; proteção do meio ambiente e ações pelo desenvolvimento sustentável; rechaço ao golpe em Honduras, pelo imediato re-estabelecimento da ordem constitucional e dos cargos democraticamente eleitos no país; e pela integração americana sem exclusões ou exceções, nem bloqueios como o que existe em Cuba. Ainda que o Uruguai seja um dos países que mais envia soldados para as missões de paz da ONU, Vázquez demonstrou preocupação quanto os efeitos da crise mundial no tocante à diminuição dos esforços de apaziguamento e combate à fome e outras mazelas sociais no mundo. Enumerou os esforços do Uruguai em matéria de preservação ambiental e políticas anti-tabaco. Sobre esse último, anunciou que é o primeiro país das Américas e o sétimo do mundo livre da fumaça do tabaco, proibindo o uso de fumíferos em todos os ambientes fechados do país. Investimentos para a democratização da informação, como por exemplo o programa "una laptop para cada niño" tem sido exemplo do Uruguai para o mundo. O chamado Plano Ceibal, de democratização da informação, totalmente custeado pelo Estado uruguaio, e que não se limita na distribuição de computadores, mas numa política de acesso indiscriminado às benesses da informática a toda a população. Por fim, reiterou o apoio à reforma da ONU e ampliação de seu Conselho de Segurança.

Ósculos e amplexos!
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Fotos: ONU/Marco Castro

Líbia, Uganda, Catar, e Turquemenistão na 64ª AG da ONU.

Líbia: o coronel Muammar Al-Qadhafi, líder da revolução da Líbia, iniciou seu discurso parabenizando o presidente dos EUA pelo seu primeiro pronunciamento na ONU. Abordou sobre a unidade mundial necessária para o enfrentamento da crise econômica, crise alimentar, e sobre as mudanças climáticas no planeta. Pediu a reforma da ONU, especificamente sobre seu Conselho de Segurança, defendendo que a Carta das Nações Unidas está com regras obsoletas em relação à realidade mundial. Criticou a forma utilizada do direito de veto como uma agressividade contra os povos em guerra. Ainda sobre a reforma da ONU, defendeu que a União Africana deveria ter um assento permanente no Conselho de Segurança, única forma de fato para que o continente possa criminalizar e superar seu passado colonial. Encerrou sugerindo que o debate geral da Assembleia Geral da ONU seja feita com sede rotativa, ou seja, em outros continentes que não seja o americano.


Uganda: o presidente Yoweri Kaguta Museveni iniciou seu discurso enaltecendo o desenvolvimento atingido pelo continente africano nos últimos 20 anos. Nesse sentido, Uganda participou desse desenvolvimento com um crescimento anual entre 6,5 e 7 porcento, mesmo durante a crise econômica. As razões para esse crescimento, segundo o presidente, deveu-se aos investimentos em infra-estrutura no país. Entretanto, mesmo com investimentos elevados, Uganda e a África ainda estão longe de possuírem autossuficiência energética, disse Museveni comparando a produção per capita de energia dos Estados Unidos, de 14.124 quilowatts/hora, com o da África, de 9 quilowatts/hora. Um dos "gargalos" que dificultam o desenvolvimento africano é o elevado custo para a construção de rodovias, novamente em comparação, enquanto a China gasta 12 dólares por quilômetro construído, o oeste africano gasta 65 dólares. Outro "gargalo" a ser resolvido na África é quanto a sua produção e exportação agrícola, que segundo o presidente, ainda exerce o modelo dos tempos escravistas. Encerrou seu discurso dizendo que a África possui duas tarefas ainda: uma, trazer as economias do continente para um crescimento que as coloquem em um patamar moderno, e a outra, solucionar os efeitos da crise econômica no continente, bem como da deteriorização ambiental. Disse, enfatizando a necessidade de ampliar o diálogo entre as nações.


Catar: o emir, xeque Hamad Bin Khalifa Al-Thani,disse que é um momento otimista para a atual Assembleia Geral, pois coincide com um período de esforços mundiais coletivos para um momento de desenvolvimento global provocado pelas crises e a melhor interação dos sistemas internacionais. Trata-se de uma oportunidade de ver o mundo através de uma ótica distinta daquela construída após os atentados de 11 de setembro. Porém, para melhor efeito, urge a necessidade de se reformar as Nações Unidas. Da forma em que está a ONU, ela é incapaz de solucionar as regiões instáveis do planeta, portanto, incapaz de apaziguar as relações do Ocidente com o Oriente Médio. A contribuição dos países pequenos deve ser repensada, criando instrumentos para melhor atuação dos pequenos na ordem internacional. Encerrou anunciando as preocupações do Catar com energias renováveis, bem como novas formas de exploração do gás natural e petróleo utilizando fontes alternativas de alimentação energética das máquinas extratoras.


Turquemenistão: o presidente Gurbanguly Berdimuhamedov pediu maior cooperação dos Estados e das Organizações Internacionais para enfrentar os problemas ecológicos, energéticos, alimentares, de pobreza, e de distribuição de água; como garantia única de paz universal. Para isso, reforçou a necessidade de reforma na ONU e em seu Conselho de Segurança. Afirmou que a tradicional postura de neutralidade do Turquemenistão tem ajudado positivamente no desenvolvimento da região da Ásia Central e do Mar Cáspio. A ideia é a de se criar um mecanismo regional permanente a fim de se enfrentar os problemas da região e acelerar seu crescimento. Sobre os problemas energéticos, o presidente afirmou que há muito ainda a se fazer para que seja criado um modelo mundial de gestão dos recursos energéticos. Algumas propostas do Turquemenistão tem ajudado na construção desse modelo. Sobre a segurança internacional, a região tem desenvolvido um programa que, desde 2006, pode-se considera-la região livre de armas nucleares. Mas alerta sobre problemas na região com as ameaças de terrorismo, tráfico de drogas, e crime internacional organizado; dos quais a ajuda internacional é imprescindível para o combate desses problemas. Demonstrou preocupação e ajuda para o Afeganistão, criticando a política adotada pelos grandes contra esse país. Sobre a crise econômica, encerrou seu discurso dizendo que é responsabilidade dessa geração criar novas formas de gestar as finanças mundiais a fim de que as futuras gerações não herdem os problemas criados por esse momento.


Ósculos e amplexos.
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Fotos: ONU/Marco Castro

Discurso dos EUA na 64ª AG da ONU.


Foto: ONU/Marco Castro

"Responsabilidade para nosso futuro em comum." (Título do discurso de Barack Obama)

Foi grande a espectativa do primeiro discurso na ONU do presidente Obama. Tanto que, ao dizer que era uma honra para ele discursar pela primeira vez na ONU como 44º presidente dos EUA, logo no começo de seu discurso, foi ovacionado pelos presentes. E foi um discurso longo, mais do que o dobro dos tradicionais quinze minutos utilizados por quase todos os presidentes discursantes.

O discurso de mudança, tão característico de sua campanha presidencial, foi reforçado em seu primeiro discurso na ONU. Nada mais natural, afinal, sempre se é importante ressaltar que não é mais o Bush usando o púlpito, nem mesmo a sua desastrosa política internacional. Porém, aponta a necessidade de mudança como responsabilidade depositada pelos cidadãos estadunidenses e exigida pelo momento histórico. Nesse sentido, Obama anuncia o interesse dos EUA em estabelecer novas formas de atitudes em nome da ação coletiva em benefício da justiça e prosperidade, tanto nos EUA quanto no exterior. Apontou que a política de seu antecessor foi promotora de uma visão cética e desconfiada da comunidade internacional, e que iria buscar uma nova forma de interação com os demais países do mundo, de forma não tão unilateral como antes. Porém, alertou que ele é o presidente dos Estados Unidos, e que sua prioridade são os interesses dos estadunidenses.

No que diz respeito à segurança internacional, o tom do discurso foi mudado, mas não seu conteúdo, se comparado aos tempos de Bush. Obama, ao contrário de seu antecessor, não enumerou os inimigos dos Estados Unidos e os apontou como ameaças a serem combatidas pelo mundo. Enumerou uma série de conflitos existentes com preocupação e os encaixou com as ameaças contra os Estados Unidos em um patamar semelhante. Entretanto, ao mesmo tempo, anunciou suas medidas domésticas no que diz respeito à proibição do uso de tortura nos Estados Unidos, o fechamento da prisão de Guantânamo e o início da abertura à Cuba, a existência de um plano de retirada progressiva das tropas do Iraque até 2011, ainda que enfatizando a manutenção do combate ao Al Qaeda (no Afeganistão e Paquistão). Ainda nesse contexto da segurança internacional, apontou a política de desarmamento nuclear e sua política de não proliferação de armas de destruição em massa como prioridade de seu governo, anunciando avanços no diálogo com países como Rússia, China e outros. E, por fim, rapidamente anunciou esforços políticos para a pacificação do Oriente Médio, principalmente no que diz respeito ao conflito árabe-israelense.

Sobre o tema da mudança climática, Obama apontou investimentos na ordem de 80 bilhões de dólares para o desenvolvimento de energia limpa. Além de parcerias com os membros do G-20 a fim de organizar um fundo internacional a fim de coordenar esforços no combate à crise alimentar e energética. Entretanto, Obama foi bastante sóbrio ao falar das dificuldades dos Estados Unidos, e também do mundo, atingir as metas sobre emissão de poluentes até 2020 e 2050. Ainda que veja com preocupação a dificuldade em se atingir tais metas, não descredibilizou a mudança climática como fazia Bush. Pelo contrário, solicitou à comunidade internacional a união de esforços a fim de que as reduções de poluentes possam se aproximar ao máximo das metas estabelecidas pela ONU.

Por fim, sobre a crise econômica mundial, Obama segue na linha de que o pior já passou. Entretanto, assumiu que ainda há riscos e muita coisa a ser feita. Sem entrar em maiores detalhes sobre o enfrentamento da crise, nem sugestões ao mundo. Apenas pediu cautela sobre as análises futuras.

Como disse no começo, o tom mudou, mas o conteúdo continua o mesmo. Não ter o jogo de cena, nem situar os Estados Unidos como vítima de eixos do mal, tampouco não ufanizar as ações dos Estados Unidos em suas ações de ingerência, não demonstra significativas mudanças na condução da política internacional por parte dos Estados Unidos. Os EUA, pelo que disse Obama, continua com praticamente a mesmíssima agenda internacional, com retoques, importantes, porém não tão transformadoras assim. De novidade, apenas a intenção de melhorar a confiança da comunidade internacional sobre os Estados Unidos em todos os ramos da política internacional, porém, sempre dando o recado de que o país contunará sendo o que é, ingerente como é, e capaz de tudo para manter sua posição e seu status quo. Nenhuma surpresa, mas também nenhuma frustração, no discurso do senhor Obama.

Ósculos e amplexos.

Discurso do Brasil na 64ª Assembleia Geral da ONU

Foto: ONU/Marco Castro


O Presidente Lula iniciou seu discurso na 64ª Assembleia Geral da ONU anunciando a abordagem de três temas, três ameaças que afligem nosso planeta: a persistência da crise econômica, a ausência de uma governança mundial estável e os riscos da mudança climática no planeta.

Quanto a primeira ameaça, Lula denunciou, ainda que sutilmente, que o caminho adotado pela economia mundial é perversa e equivocada. Para o presidente, ainda foram enfrentadas tão somente as consequências da crise, não sendo ainda, portanto, enfrentadas suas causas. Ou seja, que os caminhos do neoliberalismo, principalmente no que diz respeito à "mão invisível", que vê o Estado como obstáculo para a economia. "Mais do que uma crise de grandes bancos, trata-se de uma crise dos grandes dogmas", referindo-se ao grande dogma do neoliberalismo e sua concepção econômica tida como inquestionável. A tese da liberdade absoluta para o capital financeiro foi derrubada pela crise, bem como a demonização das políticas sociais. Conclui, sobre essa ameaça, que a verdadeira raiz da crise foi a perda da autonomia dos Estados em administrar e gerir as riquezas e o poder. Para Lula, o fato de o mundo ter reagido sobre alguns aspectos da crise provocou um certo e perigoso conformismo. Os problemas reais ainda não foram resolvidos, principalmente no que diz respeito a resistência em se regular os mercados financeiros.

Como demonstração de que o sistema econômico mundial caminha sobre tortos caminhos, Lula cita o Brasil como exemplo de país em que o Estado foi determinante para que este fosse o último a entrar e o primeiro a sair da crise econômica. "Não se trata de nenhuma mágica", disse o presidente, mas da preservação do país da especulação e redução da vulnerabilidade externa. Sempre com aprofundadas políticas sociais, com recomposição dos índices de emprego. E alertou que é necessário que o mundo possa entrar em uma nova compreensão para essas mudanças. Citando a necessidade de reformas da ONU, do Banco Mundial e do FMI.

Sobre a segunda ameaça, Lula usou dos acontecimentos em Honduras para ilustrar a necessidade da ONU e dos países desenvolvidos se envolverem com maior força a fim de garantir a democracia como modelo político mundial. Citou, ainda, o Haiti.

Por fim, no que diz respeito à terceira ameaça, Lula novamente partiu para a demonstração do Brasil como exemplo de "andar no caminho certo". Citou a aprovação das leis de proteção da mata amazônica; o uso do etanol como combustível renovável e que não depende de insumos alimentícios, o potencial energético que no país é utilizado em mais de 80 porcento de fontes renováveis, e a redução dos índices de CO2.

O discurso do Presidente Lula foi, na medida do que se permite em uma Assembleia da ONU, uma demonstração de que o Brasil deve ter uma imagem a ser melhorada. Que se trata de um país sólido economicamente, e que caminha na direção certa no que diz respeito ao seu patrimônio verde. Atacou, ainda que de leve, a postura protecionista dos grandes. E demonstrou que o Brasil realmente exerce papel de liderança regional, sem se auto-intitular-se liderança.

Por fim, foi um discurso realmente sem maiores surpresas, pois repetiu boa parte do que vem dizendo ao longo de seus discursos na ONU.


Ósculos e amplexos.

22 setembro 2009

Zelaya na embaixada do Brasil em Tegucigalpa.

Foto: AFP; Gazeta do Povo

O legítimo presidente de Honduras, Manuel Zelaya, retornou o país e se encontra abrigado na Embaixada Brasileira. Segundo o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, trata-se de uma recepção ao presidente legítimo do país cedente, portanto, uma espécie de visita oficial em território brasileiro. Com isso, Zelaya se instala às vésperas de novas eleições na capital de Honduras, e promove a comoção popular.

A imprensa brasileira, pelo menos até agora, não sabe se pronunciar. Alguns alegam que o Brasil está ferindo sua política de não-intervenção, constitucional. Mas, esquecem que o direito de solidariedade internacional e autodeterminação dos povos precede ao de não-intervenção. É o que faz o Brasil, por exemplo, quando envia ajuda humanitária a outros países. Outros creem que o Brasil não pode transformar sua embaixada em centro político. De fato, isso fere o direito internacional, principalmente o tratado sobre representações diplomáticas e o tratado sobre representação consular. Mas, como se trata do presidente do país cedente, o país que recebeu a embaixada brasileira, ele é livre para se manifestar como quiser, pois o Brasil reconhece esse presidente, e não o golpista.

De qualquer maneira, não é o Brasil quem está responsável pela tentativa de resolução pacífica do conflito, mas a Costa Rica. Como não fomos convidados para isso, manifestamos oficialmente nossa postura contrária a todo e qualquer tentativa de golpe sobre as democracias em qualquer lugar do mundo.

A embaixada brasileira não possui estrutura de segurança para qualquer incidente como uma invasão. Mas, como se trata de um território inviolável, as punições internacionais seriam um fardo insuportável para Honduras. Além disso, convidaria, caso invada o território brasileiro, de uma forma nada agradável ao Brasil mostrar sua face mais dura em situações como essa: a defesa da soberania brasileira, ainda que em solo estrangeiro. Não pode ser diferente!

21 setembro 2009

Rio de Janeiro: praia, sol e protestos.


Como dizem meus amigos do Rio de Janeiro: "fim de semana típico no Rio é aquele em que você vai pra praia, pega um sol, organiza-se pra ir pro Maraca, e participa de um protesto na orla".

Apesar do bom humor do carioca, tão característico, os protestos são coisa séria. Não se trata de mais uma atividade de lazer de um ensolarado fim de semana em Copacabana, Leblon ou Ipanema. São temas sérios, liderados por pessoas sérias, e que, dentro da lei, demonstram sua insatisfação diante das inúmeras injustiças no Rio de Janeiro e em nosso país.

Nesse fim de semana foi a vez do protesto pela tolerância religiosa. Lembrar que nosso país, ainda que um exemplo para o mundo no que diz respeito à liberdade de religião, possui inúmeros incidentes no que diz respeito à convivência pacífica entre seus adeptos. Episódios de "santas sendo chutadas", invasões de templos e terreiros, destruição de símbolos religiosos, além de inúmeros gestos de preconceito, existem e não podem ser simplesmente ignorados.

Em maio de 2010, o Rio de Janeiro será sede do III Encontro da ONU "Aliança das Civilizações". Voltado principalmente para a educação e juventude, seu tema principal é a coexistência pacífica entre as diversidades culturais, entre elas, a cultura religiosa. O protesto acaba sendo um puxão de orelha, que pergunta para cada brasileiro: até que ponto você é tolerante com o diferente?

Ósculos e amplexos.

18 setembro 2009

UEFA inventando moda: 5 árbitros.

Foto: Alvaro Barrientos/AP

A Liga Europa, que substituiu a Copa da UEFA, começou com um show dos brasileiros, mas também inventando moda. Colocou à disposição dos jogos cinco árbitros, sendo os três tradicionais, mais dois que, inclusive, podem entrar em campo para ajudar o principal. Na primeira rodada, nenhum incidente. Mas, foram jogos considerados tranquilos para arbitragem.

Não é a primeira vez que inovações como essa acontece no futebol mundial, mas é a primeira em um campeonato considerado principal. No caso da Europa, a Liga Europa é considerada o segundo maior evento futebolístico do Continente.

A minha opinião é: inventaram moda. Pois a coisa pode simplesmente complicar o que seria fácil de solucionar. A melhor alternativa ainda é a conferência por TV. Funcionaria como no futebol americano, onde o árbitro principal, em caso de dúvida, conferiria pela TV se o lance foi ou não ilegal. Não tira o brilho da partida, não tira o benefício da dúvida, e a opinião final continuaria sendo da autoridade máxima em campo.

Houve um tempo em que a audiência do futebol estava diminuindo. O corre-corre foi geral para a maioria das confederações de futebol. Aumentaram o tamanho da trave, mudaram regras para a cobrança de penalidades máximas, até a proibição do goleiro pegar com as mãos a bola já tentaram. E no fim da contas, toda mudança revolucionária no futebol se transformou em um grande transtorno. Agora, devido a imensa quantidade de erros dos árbitros, começaram a inventar moda novamente. E com as tecnologias que já existem, torna-se uma verdadeira postura pirracenta não adotar a consulta à imagens de TV. Outra novidade que há muito se discute e não se aplica é o de colocar um chip na bola para detectar se ela passou ou não por inteira pela linha do gol.

De qualquer forma, quem gosta de futebol vai ao estádio para torcer pelo seu time, para ver o brilho de seus jogadores, para sentir o calor da torcida. Não para ver uma seleção de árbitros atrapalhando a visão dos torcedores.

Ósculos e amplexos.

16 setembro 2009

Mudanças no FIES: já é alguma coisa.


A Lei de Murphy diz que otimista é aquele que, ao pular de um prédio, a cada andar que vai passando vai dizendo: até aqui tudo bem. Essa risível, e até um pouco boba, comparação serve para ilustrar as mudanças no sistema superior de ensino no Brasil. O projeto de Reforma Universitária, que já foi mexida tantas vezes que, como está agora, ficou tão tímida que sua implementação não faria mais os efeitos necessários para transformar a educação brasileira (isto é, caso seja aprovada ainda durante o governo Lula). E não sou só eu que digo isso, o próprio Ministro da Educação lamenta a forma tacanha que o projeto de Reforma Universitária possui em tempos atuais.

Dentre as novidades, tão tímidas, porém que não deixam de ser polêmicas, está a questão do ENEM como substituto do vestibular e as mudanças no FIES.

O ENEM prioriza o raciocínio. Ele faz com que o estudante se depare com situações possíveis de acontecer em seu cotidiano e, para solucionar os problemas, terá que adotar o conhecimento adquirido ao longo de sua vida escolar. Alguns estudantes consideram muito fácil, mas a realidade nacional demonstra que pouquíssimos se dão bem nesse exame. E a média nacional chega a ser constrangedora. O exame foi modificado, ampliado em seu número de questões, o que o transformou em uma prova ainda mais cansativa, e que no fim das contas irá acabar favorecendo somente quem decorou mais "atalhos" para solucionar todas as questões. E, universidades como a UTFPR, irão abolir seu vestibular para adotar o ENEM como critério seletivo.

Não é necessariamente um avanço. O ENEM acaba sendo apenas uma prova unificada, um vestibular diferente. Não faz diferença no fim das contas, pois continuará favorecendo aquele que não tem que trabalhar e estudar simultaneamente. Tampouco privilegia aquele que teve regularidade em suas avaliações ao londo de seu ensino fundamental e médio. Mas já é um começo. A questionável meritocracia do vestibular atual em nada seleciona universitários ideais. Apenas seleciona decoradores de fórmulas, macetes e atalhos. E, quando chegam na universidade, se deparam com os eternos problemas de falta de conteúdo de base para enfrentar as disciplinas mais avançadas de seu curso. Não afetará, no fim das contas, em nada na qualidade do ensino. Nem para melhor, nem para pior.

Outra mudança é sobre o FIES. Irão mudar as regras. Irão flexibilizar algumas exigências, e discute-se a dispensa da figura do fiador. O problema é que não resolve a exploração que no fim das contas acaba se tornando o empréstimo estudantil. Ainda que com juros mais baixos que os praticados pelo mercado, são astronômicos para quem acaba de sair da universidade e que certamente demorará para entrar no mercado de trabalho por conta da dificuldade em se conseguir bons empregos no Brasil. Para o estudante, na maioria dos casos, é melhor tentar pagar sua faculdade sem utilizar o FIES, para não começar sua carreira profissional superior com uma dívida imensa jogando contra.

Vagas, mais universidades públicas, gratuitas e de qualidade; formação crítica, laica, apoiada no ensino, na pesquisa, e na extensão acadêmica; ainda são as reais alternativas para o ensino superior brasileiro. O fim do vestibular não será processado pela inclusão de outro sistema de seleção, ainda que esse seja consideravelmente melhor que o atualmente adotado. De qualquer maneira, só será possível com uma Reforma Universitária profunda e de qualidade. Um retorno ao projeto original de 2004, mas com acréscimos importantes das críticas da comunidade acadêmica deveria ser pensada, bem como as devidas críticas. A Reforma, como está hoje, é tacanha, como diz o Ministro da Educação. E, as principais linhas da Reforma de 2004 estão longe de ser colocada em voga. Apenas "ajustes" delas ajudam, mas não resolvem. Para os mais otimistas, antes de espatifarem, até aqui tudo bem!

14 setembro 2009

Drogas e violência: minha opinião.



No Blog do meu amigo Jonivan tem uma enquete com a seguinte pergunta: "Você acha que legalizar as drogas acaba com a violência?". Entre as opções da enquete temos: sim; não, mas diminui; não, fica tudo igual; violência e drogas não têm nada a ver. Confesso que tive que refletir bastante para dar o meu "clique" na enquete dele.

Para responder a pergunta, necessariamente tem-se que responder outra: qual é a origem da violência no Brasil? E respondê-la não é tarefa fácil. Há inúmeras formas de violência em nosso país. A violência sexual, a violência contra as crianças, assaltos, sequestros, homicídios, são algumas delas e os dados são contados apenas pelo número de vítimas registradas, o que facilmente nos leva a crer de que se trata de apenas números parciais, pois o pior não é revelado por insuficiência de informações. E da sensação de insegurança, somada à impunidade e à imensa falta de acesso à justiça pela maioria da população, o povo não tem outra alternativa senão sentir medo. Medo que beira à psicose coletiva. Medo que faz com que o Brasil não dimunua seus elevadíssimos índices de morte prematura, principalmente entre a infância e a juventude. Todos são ou serão vítimas de alguma forma de violência. Eis a nossa triste realidade.

São inúmeros fatores que fazem com que irrompam assustadores índices de violência (ressaltando que os dados reais são bem maiores do que os coletados pelas fontes oficiais). Fatores sócio-econômicos, geralmente provocados pela pobreza extrema e pela fome. O chamado império da necessidade que atrai inúmeras pessoas ao roubo e à prostituição, uma tentação extremamente forte para quem está no desespero. Fator da omissão do Estado na prevenção e repressão da violência, onde a própria escola, que deveria ser a principal fomentadora da prevenção, quando não é tratada como depósito de crianças, acaba sendo centro de manifestações de violência. Além do Estado geralmente optar por políticas de curto prazo, que sintetiza-se quase sempre em "mais polícia nas ruas", sem um plano macro, de longo prazo, baseado nas regras dos Direitos Humanos, onde todos os formuladores de política deveriam se basear acima de seus compromissos ideológicos-partidários. Fatores sanitários, onde a dificuldade de se ter cuidados à saúde levam a vulnerabilidade biológica da maioria da população, alterando sensivelmente a percepção do valor que possui o corpo humano e criando uma atitude generalizada de indiferença ao sofrimento humano. Fatores repressores, onde a polícia, mal preparada, mal estruturada, e insuficiente, além de um sistema prisional vergonhoso, favorecem a corrupção e a resposta ainda mais violenta da polícia sobre principalmente as camadas mais pobres da população. Fatores culturais, onde as inúmeras formas de discriminação são feitas de forma velada. O negro, o jovem, a criança, o gay, o solteiro, a solteira, a divorciada, o indígena, os idosos, enfim, são sempre tratados como problemas a serem combatidos. Fatores demográficos, onde o excesso populacional nos centros urbanos, e o consequente esvaziamento das áreas rurais, demonstram a desorganização da distribuição de oportunidades. Fatores religiosos, onde a unidade familiar e as doutrinas de vida reta e moralidade são substituídas pela disputa mercadológica de fiéis, favorecendo a intolerância religiosa e os conflitos dela originários. Enfim, além de inúmeros outros fatores.

A legalização da droga não alteraria o quadro de nenhum desses fatores, tampouco suavizariam. Além de se tornar um sério perigo para a sociedade. Prova dos efeitos nocivos das drogas entre os trabalhadores é a quantidade avassaladora de pessoas fora do mercado do trabalho devido ao alcoolismo. Ao entrar para esse grupo social, o alcoolatra acaba sendo vítima de outros fatores que provocam a violência, quando não se torna o próprio agente violento (para ilustrar, vide casos de violência doméstica, provocados pelo pai, pela mãe, ou ainda pelo filho e pela filha, por causa do vício da bebida). A droga enquanto agente da violência está presente em quase todos os fatores, seja ela legal ou ilícita.

Por outro lado, há um problema que diz respeito especificamente ao fator de violência determinado de omissão do Estado: a criminalização do usuário de drogas. Se o alcoolatra é tratado como delinquente em potencial pelo Estado, ao invés de uma pessoa que necessita de auxílio; a situação de dependentes de substâncias ilícitas é indescritível. E, o usuário, por ser criminalizado, ao invés de tratado, não tem outra escolha senão optar pelo caminho que a própria droga lhe mostra: o da violência.

A minha resposta para a enquete não poderia ser outra senão: "não, fica tudo igual". Não há como dizer que droga e violência nada têm a ver uma com a outra, pois estão interligadas. Mas, a droga não é a causa do problema, mas mais uma manifestação dela. E a forma adotada pelo Estado para lidar com o problema é pífio, contribuindo ainda mais para a violência. Legalizar, creio eu, não resolve, e ainda pode atrapalhar ainda mais. Descriminalizar já é outra conversa. É fazer o Estado assumir que tem dependentes em seu país e que precisam de ajuda, e não de cadeia. E essa discriminalização não pode ser à holandesa, liberando o consumo em alguns estabelecimentos ou tolerando o porte de substâncias ilícitas aos usuários. Mas, voltada para a orientação, voltada para o atendimento de necessidades, voltada para o combate à auto-destruição, voltada para a defesa do valor da vida humana. Discriminalizar o uso da droga é válido somente com a fixa ideia de que o médico, assim como todos os outros profissionais, estarão cuidando de uma pessoa doente, e não de "apenas" um bandido.

Ósculos e amplexos.

12 setembro 2009

Versão oficial do governo da Guiana sobre a deportação de missionários.

Após 10 dias da prisão dos missionários estadunidenses de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos, o governo da Guiana se manifestou oficialmente. O Presidente Bharrat Jagdeo desmentiu tanto as afirmações de que o governo desconfiava de espionagem dos missionários, quanto o desconforto com a Igreja devido a proximidade da líder do partido de oposição com os mórmons. Segundo o presidente Jagdeo, trata-se de uma operação que visou seguir a letra da lei sobre imigrações em Georgetown, começando pelo grande número de missionários das mais distintas religiões por lá existentes. Disse ainda que a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é muito respeitada pelo governo, e que a operação não buscou prejudicar a Igreja em específico, mas a de obrigar a todos a seguirem a lei.

O governo da Guiana se pronunciou também sobre as especulações acerca dos missionários serem dos Estados Unidos, o que poderia ser entendida como uma forma de se manifestar contra o país. Segundo o porta-voz oficial, o governo tem estabelecido inúmeros bons entendimentos com o governo dos EUA, incluindo a construção de operações militares em conjunto para garantir a paz na tensa região guianesa disputada pelo Suriname e pela Venezuela.

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias informa que é parte de sua crença respeitar a lei e as autoridades. E que, se realmente os documentos dos missionários estavam vencidos, deveu-se a alguma mudança na legislação da Guiana não comunicada às lideranças da Embaixada da Guiana nos Estados Unidos. Esses, por sua vez, não comunicaram a Igreja sobre as novas exigências sobre seus missionários.

A que tudo indica, os missionários irão mesmo embora. E provavelmente virão outros, mas agora com maior atenção sobre as leis de vistos e migrações da confusa e complexa Guiana.

08 setembro 2009

Conversa de taxista!

Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Há uns tempos atrás, peguei o taxi desse sujeito da foto. Além de seu atendimento extremamente polido e educado, o taxi é uma maravilha: limpinho, todas as opções de cartões para pagamento, balas à vontade, DVD-player para espantar o tédio, uma infinidade de filmes (inclusive algumas raridades para os mais cinéfilos), e um servicinho extra: um livro que ele publicou contando as histórias mais hilárias que ele já vivenciou na "viatura". Comprei o livro para ajudar o camarada (que algum amigo meu, desavisadamente, pegou emprestado da minha biblioteca e ainda não me devolveu).

Comprei o livro sem esperar muita coisa. Afinal, tratava-se de mais um entre milhares de livros abordando em crônica o cotidiano. Mas, para minha surpresa, o livro se tornou um passatempo divertidíssimo. As histórias, por se basear em relatos reais, nunca tem um final previsível. E são contadas com uma fluidez que faz com que a gente simplesmente devore o livro em alguns minutos.

Eis que na bienal do livro, em Curitiba, deparo-me com o mesmo livro, com uma nova capa, e agora com uma editora (Juruá). Bem mais caro do que quando comprei no carro do Eloir José (o autor). Fui pesquisar, e o sujeito agora tem página na internet, inúmeras reportagens feitas com ele, e em breve uma visita ao Jô Soares. Virou uma história de sucesso.

Fico muito feliz quando um trabalhador consegue fazer "algo mais". Ao invés de reclamar da rotina, ou de simplesmente "ganhar o pão nosso de cada dia", o moço resolveu investir no que gosta. Bicho do Paraná, um brasileiro que não desiste nunca! Recomendo a leitura para os amigos, e desejo muita sorte: para que ele continue escrevendo, e para que eu consiga um dia pegar novamente uma corrida com ele.

Ósculos e amplexos.

07 setembro 2009

"Verás que um filho teu não foge à luta!"


Exceto nos esportes, não sou ufanista. No futebol, no basquete, até em jogo de bola de gude, defendo feitos extraordinários do Brasil. Mas, quando o assunto é Brasil em qualquer outra área, sou um patriota, mas não sou ufanista. E, ao ler a matéria de hoje da Gazeta do Povo "Defesa do bem público é exemplo de civismo", senti-me contemplado.

Já foi o tempo em que criticar as mazelas de nosso país era sinônimo de anti-patriotismo. "Ame-o ou deixe-o", frase infeliz que marcou o regime militar e que eu via quando criança principalmente nos carros blindados da polícia ou de bancos, foi substituída por "Brasil: um país de todos". Sim, um país de todos, mas ainda um país que privilegia poucos. Não há como amar sem cuidar, então, como patriota que mareja os olhos quando canto o trecho "Verás que um filho teu não foge à luta", denuncio, organizo-me, escrevo, contribuo da melhor forma que posso, e sempre.

Senti-me contemplado, pois o curitibano, segundo a pesquisa contratada pela Gazeta, 59% defende que patriotismo é "defender o interesse público e o bem-estar coletivo", contra 20% que ainda enxerga patriotismo enquanto "venerar os símbolos nacionais". E 77% dos entrevistados dizem que exercem a cidadania votando, cumprindo corretamente seus deveres, sendo solidário, e fazendo valer os seus direitos, contra apenas 11% que dizem exercer sua cidadania torcendo pelos atletas brasileiros em competições internacionais.

Concordo com o Presidente da UPE, Paulo Rosa Junior, que diz que o povo brasileiro está voltando a ter orgulho do país como fruto das melhoras e do crescimento. Outros elementos somam: as gerações atuais que fazem intercâmbio já não mais percebe que o melhor do mundo está lá fora, mas que boa parte está é aqui dentro. A segurança econômica do país faz com que inúmeros imigrantes brasileiros retornem quando esbarram no desemprego mundial, na crise financeira, e nas medidas xenofóbicas principalmente na Europa e nos Estados Unidos.

E a vergonha continua com as velharias de nossa nação: a classe política, principalmente os mais tradicionais parlamentares. Filhos de períodos nada auspiciosos do país, ainda acreditam no jeitinho, nas brechas burocráticas, no enriquecimento ilícito. Novamente me contempla, pois sempre militei entre a juventude, que acredita que um novo Brasil é possível. Que teve coragem de impedir um presidente corrupto, que enfrentou os desmanche do Estado do presidente intelectual, que elegeu o presidente operário, e que pega no pé desse mesmo presidente por não ter feito as reformas que o país tanto precisa.

Ainda somos um país com miséria, com famélicos, com elevados índices de violência, e muita, mas muita impunidade. E, ser patriota é, sem dúvida, enfrentar todas essas mazelas.

Ósculos e amplexos, e ótima semana da pátria!

Uma novidade no movimento estudantil?


Segundo a máxima do jornalismo, de Charles A. Dana, "Um cachorro morder um homem não é notícia, notícia é quando um homem morde um cachorro". Não há outra forma de ver a matéria da Gazeta do Povo do último domingo, 6 de setembro, sobre a atual composição da diretoria da União Paranaense dos Estudantes. A matéria traz os integrantes do movimento Oxigênio em destaque, cujos principais membros são ligados à partidos como o DEM e o PSDB. Porém, a matéria não é ruim.

Não se trata de tanta novidade assim. Por diversas vezes na história da UPE e do movimento estudantil paranaense os "de direita" se fizeram presentes, inclusive no comando da entidade. Isso reflete a postura democrática da entidade, onde reproduz em seu seio as disputas políticas nacionais. Se existem estudantes filiados à partidos como PSDB, nada mais justo e natural que esses se organizem e disputem as entidades estudantis. O enfoque dado pela Gazeta foi a de que há tempos o ambiente estudantil é dominado pelos "de esquerda", e que a presença dos "de direita" mostra mudanças no movimento.

Em outros Estados, como por exemplo Santa Catarina, a disputa entre esquerdistas e direitistas é mais evidente. Palmo à palmo, universidades são disputadas por legendas como PP, PSDB, PPS, PCdoB, PMDB, PT, DEM, PSC, além de organizações como Demolay, Rotaract, Leo, e tantos outros. Isso realmente não é problema, pois garante um amplo leque representativo, além de inúmeros pontos de vista distintos sendo debatidos e decididos pelas entidades estudantis. Não é problema, mas desde que envolva os estudantes, não ficando somente na disputa das entidades.

Na matéria da Gazeta, um dado preocupante: menos de 1% dos estudantes se envolvem com o movimento estudantil, e menos de 25% diz ter ouvido falar ou saber quem é o presidente da UPE ou da UNE. Isso demonstra uma outra evidência: a necessidade do movimento estudantil ser repensado. Um verdadeiro desafio para os líderes estudantis é descobrir como envolver os estudantes que não se identificam com o engajamento político. Fazer isso, porém, sem abrir mão da necessária organização política e dos militantes políticos. Debater a realidade dos estudantes, fazendo-a passar pelo centro acadêmico, mas sem isolar o que não é da esfera do debate político é um grande desafio tanto para "de esquerdas" como "de direitas".

Por fim, tenho que parabenizar a matéria sobre a posição das forças políticas sobre a questão Sarney. Conseguiu mostrar que cada força tem um pensamento bastante distinto uma da outras. Além disso, tenho que parabenizar o Paulo, Presidente da UPE, que em nome da UJS foi mais profundo, exigindo uma reforma política no país.

Ósculos e amplexos.

06 setembro 2009

Mormons na Guiana: gafe documental?



Se para quem mora no sul do Brasil como eu é extremamente difícil obter informações sobre o norte brasileiro, obtê-las sobre a Guiana é um exercício de paciência e de força de vontade. Guiana é um país pequeno, de população que não chega à metade, em comparação, da população de Curitiba. De democracia bastante instável e recente, sua história política é recheada de fraudes, conflitos étnicos, e constantes ameaças de perda de seu território e de sua soberania. Guiana faz parte do grupo de países conhecidos como "uma outra América do Sul", ou ainda, porção caribenha da América do Sul (Guiana, Guiana Francesa, e Suriname). A questão religiosa é inevitavelmente ligada aos conflitos étnicos de uma população composta por mais da metade de origem indiana, menos de 30% de origem africana, e uma minoria que não chega a 10% da população de outras origens étnicas, incluindo brancos e índios.

Além de um turbulento passado político ao longo da guerra fria, onde já tentou ser satélite da URSS, já flertou com os EUA, uniu-se ao Brasil no bloco dos não-alinhados, possui também inúmeros traumas quando o assunto é liberdade religiosa. O país instaurou a liberdade de culto, revertendo, portanto, a radicalidade do chamado Estado ateu, em 1985. Mas, isso não impediu a tragédia de Jim Jones em 1978, onde mais de 900 pessoas cometeram suicídio coletivo liderados por um maníaco, líder da Igreja "Templo do Povo". Desde então, devido o trauma mais do que justificado, qualquer organização religiosa de origem nos Estados Unidos é vista com bastante desconfiança pelo governo guianense, ainda que o caso "Jim Jones" tenha sido único e nada tendo a ver com as denominações atuais instaladas na Guiana. Das inúmeras denominações religiosas existentes na Guiana, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e os Testemunhas de Jeová, são as duas mais fortes e em acelerado crescimento e ambas possuem origem histórica nos Estados Unidos.


Missionários estadunidenses em prisão domiciliar na Guiana.


O caso da expulsão de missionários mórmons do território guianense, porém, não se aplica a uma represália à Igreja propriamente dita, mas exclusiva aos missionários de origem estadunidense. Os missionários de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias oriundos da Inglaterra, de Trinidad e Tobago, e alguns missionários brasileiros continuarão lá e, a que tudo indica, não terão nenhuma medida governamental contra eles. Além disso, nenhum missionário guianense está impedido de fazer missão em outros países.

O que chama a atenção é a forma de como a coisa foi feita. Primeiramente, os missionários estadunidenses são buscados pela polícia após uma ordem judicial de verificação da situação documental dos missionários. Logo após, cerca de 50 missionários foram presos, e atualmente em prisão domiciliar, e podem ser deportados em menos de um mês se a situação deles não for resolvida. A Embaixada dos Estados Unidos na Guiana e a líder da oposição Volda Lawrence (PNCR), após exigirem maiores explicações, obtiveram como resposta do Ministério de Assuntos Domésticos a seguinte resposta: os missionários americanos SUD são suspeitos de espionagem.


Deputada Volda Lawrence, amiga SUD, e líder da oposição.

Com a declaração de suposta espionagem, um verdadeiro delírio político segundo Lawrence, todas as possíveis especulações caem por terra. Lawrence acusa o Ministro de "querer se aparecer criando medidas que afetam cidadãos estadunidenses"; e com a omissão do Presidente Jagdeo, o Ministro está conseguindo obter sucesso.

O trabalho missionário na Guiana não irá parar mesmo que a deportação se confirme. É um trabalho que consegue fazer com que afros, hindus, índios, e brancos vivam em harmonia e superem as diferenças étnicas. Além disso, o programa de Bem-Estar da Igreja está ensinando milhares de pessoas a saírem da miséria extrema, além de levar auxílio humanitário para as vítimas das constantes enchentes que assolam o território guianense (abaixo do nível do mar).

O caso da Guiana mostra que nosso Continente não é nem um pouco livre de guerras e conflitos de origem étnica. Além de possíveis confrontos entre Venezuela e Guiana, Suriname e Guiana, há ainda sérios problemas na região "virtual" de fronteira entre Guiana e Brasil. Nosso país continua ignorando a Guiana, e, enquanto isso, inúmeros brasileiros entram ilegalmente em busca de ouro e diamante na região da Guiana amazônica. Soma-se ainda toda sorte de tráfico que exite nessa região, de drogas à de mulheres. Um barril de pólvora na América do Sul.

04 setembro 2009

4ª Verdurada de Curitiba será 13/09!


Para quem nunca ouviu falar, participar de uma verdurada pode ser, no mínimo, uma experiência social interessantíssima. Trata-se de uma festa onde só tocam hardcore, a galera dança numa explosão de socos, encontrões e "voos" sobre a plateia. Quem vai, vê logo um ambiente bem punk, com música agitadíssima, e os mais diversos visuais. Mas, aos poucos, algumas coisas vão chamando a atenção: não tem briga, não tem bebida, não tem cigarro! E no final, ainda tem um jantar vegetariano.
A próxima verdurada de Curitiba está marcada para o dia 13 de setembro, à partir das 15 horas na Casa do Estudante Luterano de Curitiba (CELU, do lado do Passeio Público). Todos são muito bem vindos e pagam a simbólica quantia de R$ 7,00.
Na verdurada também tem debates sobre política, tem debate sobre cultura, tem bazar de discos, roupas. Além de provar que o hardcore não morreu, os straight edges* mostram que é possível ir e voltar de uma festa animadíssima sem feder à cigarro e cachaça e ainda se divertir bastante.
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* Straight Edge (sem uma tradução literal para o português, pode ser lido como "cara limpa", "careta"); movimento hardcore surgido nos Estados Unidos, cujos adeptos, em sua maioria, utilizam um X nas costas das mãos para informar que não bebem bebidas alcoolicas e nem fumam. Conta a história do rock que uma banda de hardcore foi tocar em Washington, e que para autorizar menores de idade a entrarem no bar, o dono teve a ideia de marcar as costas das mãos dos menores com um X preto. Dessa forma, o garçon saberia que não deveria oferecer e nem servir bebidas alcoolicas ou tabaco para eles. Com o tempo, adeptos do vegetarianismo e do veganismo aderiram ao movimento straight edge; criando a verdurada. Para ser straight edge não precisa ser vegetariano ou veganista, mas tem que se abster de qualquer droga. E, é claro, gostar muito de Hardcore!

Missionários SUD podem ser deportados da Guiana.


A polícia deteve 38 missionários de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em missão em Georgetown, capital da Guiana, alegando que estes estavam com seus vistos de permanência vencidos. Em prisão domiciliar, os missionários podem ser deportados para os Estados Unidos em um mês caso a situação não se resolva.

Segundo o porta-voz da Igreja, em Salt Lake City, Scott Trotter, "estamos aguardando maiores explicações sobre o ocorrido, além de negociar com as autoridades dos dois países para que tudo se resolva amigavelmente". A embaixadora dos Estados Unidos na Guiana, Karen Williams diz: "não recebemos nenhuma notificação de mudanças para a emissão de vistos de permanência por parte do governo da Guiana (...) e a Igreja costuma ser bastante rigorosa sobre a situação documental de seus missionários (...), mas não quero especular nenhuma razão para o ocorrido". Por fim, o advogado da Igreja, Nigel Hughes, informou que aguarda maiores explicações dos motivos que levaram à ordem judicial para a polícia deter os missionários.

Extra-oficialmente, alguns jornais da Guiana e dos Estados Unidos afirmam que se trata de uma ação política por parte de setores do governo "desconfortáveis" com a presença mórmon no país. Segundo esses jornais, a origem dessa ação policial é uma espécie de retaliação à visita da líder da oposição Volda Lawrence a Salt Lake City há dois anos atrás. Nessa ocasião, a líder da oposição foi convidada pela Igreja para participar de reuniões do parlamento de Utah na Comissão Racial. De lá para cá, a Igreja tem sido apontada como símbolo de oposição ao governo da Guiana, principalmente por causa de seus programas de ajuda humanitária. Os partidos da oposição, e alguns da situação, manifestaram-se dizendo que isso é uma vergonha para o país. Uma vez que a Guiana respeita a liberdade de culto, deve ela não fazer juízo sobre nenhuma fé.

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias desenvolve na Guiana inúmeros programas de ajuda. Programas de alfabetização, de técnicas de pequena agricultura, construção e reforma de escolas e asilos, além de doações de comida, roupas, e cadeiras de roda nas regiões afetadas por adversidades naturais e pobreza extrema. A Igreja está presente na Guiana há 20 anos, e existem cerca de 100 missionários na Guiana, sendo a maioria cidadãos estadunidenses, que além de divulgar o evangelho e a Igreja, são responsáveis por organizar e levar boa parte desses programas às pessoas necessitadas. Todos esses programas são custeados pela própria Igreja, através de contribuições de seus membros em todo o mundo. Além disso, a Igreja tem por princípio organizativo não aceitar contribuições por parte de governo, partidos, ou qualquer organização de cunho político; além de não se envolver nas questões políticas do país.
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Foto 1: Polícia da Guiana em operação nas ruas de Georgetown;
Foto 2: Almoço dos missionários da missão em Georgetown;
Foto 3: Capela do Ramo New Amsterdam, em New Amsterdam (foto e pessoa em frente: Élder Bullock)
Foto 4: Família da Guiana com suas recomendações ao Templo.

02 setembro 2009

Movimento Estudantil: complexo de vira-latas X jogo do contente.


Há duas coisas que realmente me irritam no movimento estudantil (ou em praticamente qualquer debate): o complexo de vira-latas e o jogo do contente. Toda vez que um aparece, o outro logo é acionado. E o resultado é o debate se esvaziar ou, no máximo, virar briga de torcida.

Apenas relembrando, "complexo de vira-latas" é uma expressão criada por Nelson Rodrigues. A expressão foi utilizada para explicar a reação dos brasileiros depois que perdeu a Copa de 1950, mas, segundo ele, pode ser aplicada em qualquer situação. Trata-se da voluntária posição de inferioridade que o brasileiro se coloca em relação aos demais países do mundo; uma espécie de Narciso ao contrário, que cospe na própria imagem. Já, o jogo do contente é encontrado no livro "Pollyanna", de Eleanor H. Porter. A personagem aprendeu com o pai um jogo onde aprende a ver sempre o lado bom das coisas. Após receber uma muleta ao invés da cobiçada bicicleta, o pai da personagem diz que isso foi bom para ela, pois ela poderia aprender a valorizar o fato de não precisar usar a muleta. Com isso, ela sai vendo o lado bom em absolutamente tudo: das torturas de sua tia até um acidente de carro que quase a deixou paralítica.

No movimento estudantil funciona mais ou menos assim: quem está na oposição tem complexo de vira-latas, quem está na situação brinca de jogo do contente. O complexado enxerga o mal em todas as coisas, age como se houvesse uma conspiração contra ele por parte da situação, e sempre aponta a organização estudantil como uma instituição que deve se apresentar sempre como inferior às demais instituições do país. O jogador do contente, por sua vez, busca ver o lado bom de cada ação, nunca admite um erro, nunca acha que as coisas poderiam ser melhores ou piores, está tudo sempre bom, sempre vitorioso, que sempre fez algo histórico.

Apenas para ilustrar, pois poderia utilizar inúmeros outros exemplos, o caso dos patrocínios que entidades, como a UPE e a UNE, angariaram para realizarem seus respectivos congressos. O complexado crê e agita bandeira que as entidades estudantis não podem receber patrocínios nem públicos e nem privados. Segundo sua lógica, se recebe patrocínio do setor privado, a entidade se vende ao capital, se da pública, ao governo. Ao mesmo tempo, o complexado desconfia demais da situação para que ela faça finanças por meio de venda de livros ou emissão de carteirinha estudantil. Por sua vez, a situação contra-argumenta que não há problema nenhum em receber patrocínios. Que aquele que contribui para o movimento é amigo do estudante. E que se a entidade vender alguma coisa, será uma prova de sua maturidade em negociar com gregos e troianos.

É claro que ambas as posturas me irritam. Se depender do complexo de vira-latas, as entidades estudantis nunca terão independência financeira. E somente com independência financeira é que uma entidade social pode, de fato, ter verdadeira autonomia. As entidades devem negociar comuns interesses, jamais vender seus ideiais ou princípios. Por isso é que existem os congressos e as diretorias. Não há nada demais em se aproximar de uma empresa ou de um governo que se simpatiza com alguns aspectos da proposta estudantil e fazer com que ela a patrocine. Em qualquer negociação, ambos os lados devem deixar claro onde ficam os limites da negociação. Uma empresa pode patrocinar toda as ações culturais de uma entidade, mas se recusar a fazer o mesmo com as ações esportivas. E, por sua vez, a entidade irá aceitar o patrocínio somente para as ações culturais. Além disso, a entidade deve possuir uma renda própria, que pode ser oriunda da carteirinha estudantil. Isso garante que a entidade não vacile diante de uma proposta mais polpuda, porém contraditória com a política estudantil. Esse é o melhor caminho para a autonomia.

O jogo do contente é tão irritante quanto o complexo de vira-latas. Pois, simplifica tudo pelo lado bom da coisa. Simplesmente angariar patrocinadores para que se tenha um saldo positivo na conta da entidade é um ato irresponsável. Realizar uma ação exige prestação de contas. E essa deve demonstrar com transparência de onde veio o dinheiro, para onde foi, e como foi utilizado. Além de determinar prioridades. Uma empresa que visa combater sistematicamente a carteirinha estudantil não pode ser convidada para patrocinar nenhum evento estudantil, pois a empresa ataca justamente a autonomia das entidades estudantis.

Tanto oposição quanto situação tem o dever de fazer a entidade andar para frente. Complexados e jogadores do contente acabam fazendo com que a entidade estudantil ande de ré. Não enxergam as necessidades nem da entidade e nem dos estudantes. Acabam ficando míopes, daqueles bem ceguetas. Um não avalia os tempos atuais, e o outro acaba sendo irresponsável. E não digo apenas sobre a UPE ou a UNE, mas sobre qualquer entidade estudantil. Falo de oposição e situação, e não de força política A ou B. E quando a entidade comete um erro, esse ou não é percebido ou se transforma em campanha para nova diretoria. E quem perde, como sempre, acaba sendo o estudante.