05 maio 2008

Como é bom te ver campeão de novo!



Quando começou o campeonato paranaense, era um time frágil. Seu arqui-rival era majestoso.
Aos trancos e barrancos, classificou-se para a segunda fase em segundo. Porém bem distante de seu tradicional rival, que havia feito uma campanha, na falta de uma expressão mais exata, brilhante. Grupos separados, ascensão de um, vacilos do outro. Ainda assim, dois clubes de expressão rumando para a grande final. Do lado rubro-negro, muita confiança, mesmo diante de um tropeço a um rival, menor, porém também importante: Paraná Clube. Mas o rubro-negro devolveu na mesma moeda logo na partida seguinte. Já no outro grupo, um time do interior apavorava os clubes da capital. Classificaram para a semi-final, de um lado, Paraná e Toledo, campeões de seus respectivos grupos, e logo atrás deles, os inimigos tradicionais Coritiba e Atlético. Do lado do furacão da baixada não houve vida fácil: o Toledo continuou complicando a vida do time da capital. Porém, fracassou diante da força da torcida e da qualidade do elenco do clube mais tradicional. Na outra semi-final, um clássico da capital: Paraná e Coritiba. Importante lembrar que, ao longo da década de 1990, o Coritiba não representou dificuldades para o tricolor curitibano. Entretanto, os tempos são outros, e o alviverde não tomou conhecimento de seu adversário e classificou-se para a grande final. Iria enfrentar seu arqui-rival.
E veio a final. Dois jogos, o primeiro no Major Antônio Couto Pereira, casa dos alviverdes paranaenses. Dois gols, a confirmação do artilheiro da esmeraldina, e um passo mais próximo do título ao clube quase centenário.
A festa ficou para o domingo do trabalhador. Casa cheia, de atleticanos. Cenário: Joaquim Américo, a querida baixada daquele que carrega a camisa vermelha e preta. A cidade inteira, talvez o estado do Paraná inteiro, mobilizado para ouvir o jogo, pois a transmissão televisiva fora proibida pela diretoria do time da casa. Muita tensão, muito mistério. Ambos os times divulgaram seus respectivos elencos quando ambos já estavam em campo. A torcida do Coritiba, dez porcento do total do estádio, era barulhenta. Mas ainda mais era a gigante torcida atleticana, que conseguia um barulho tal que aparentava estar só em seu estádio. Do lado de fora, há alguns quilômetros de distância, na sede do primeiro jogo da final, um número, senão igual, quase superior de coxas-branca se encontravam e ouviam o jogo angustiados. Uma cena risível se não fosse o maior evento futebolístico do Paraná.
E assim começou o jogo. O time alviverde tremeu ao longo do primeiro tempo frente ao verdadeiro rolo compressor do ataque rubro-negro. A torcida atleticana também era jogador, o chão tremia à cada lance do lado rubi. Aos treze minutos, numa cobrança de falta, aparentemente um cruzamento de netinho, a bola engana o adiantado goleiro Edson Bastos e o encobre. Joaquim Américo estremece, gol atleticano, e o desespero alviverde. Nesse momento, a torcida do coxa buscava a calma com a lembrança do regulamento. Os dois gols em casa faziam do placar real favorável para o time visitante. E o rolo compressor do time da casa não parava. Aliás, parou pela mão espalmada de Edson Bastos, numa defesa excepcional após uma quase sempre mortal cabeceada defronte ao gol. Daquele momento em diante, ambas torcidas sentiram que o clássico, por mais que o placar dissesse outra coisa, estava apenas começando. O Coritiba conseguiu se firmar em sua defesa apenas no final do primeiro tempo, porém não saiu cabisbaixo. Buscava mostrar aos torcedores esmeraldinos que jogava favorecido pelo regulamento e que se encontrava calmo.
Careca, jogador que realmente não sei o que fazia em campo, era uma visível dificuldade para o Coxa. O seu setor de marcação demonstrava um buraco que o rolo compressor atleticano explorou o primeiro tempo inteiro. Mas, assim que acabou o intervalo, viria ao campo o que seria o algoz dos atleticanos: Henrique Dias, o predestinado. Mas não sem sustos, ou melhor, desespero. Marcelo Ramos amplia o placar para o rubro-negro aos nove minutos do segundo tempo. Eu, declaradamente coxa-branca, pela primeira vez tremi por completo. Aquele rolo compressor poderia fazer mais um, poderia destruir meu time na prorrogação, ou ainda, eu enfartaria na cobrança de pênaltis. Keirrison, o artilheiro, estava tão bem marcado que não me lembro de até aos dezoito minutos do segundo tempo o narrador ter citado o nome dele. Parecia que o clube do Alto da Glória não tinha forças diante à máquina rubro-negra. Mas, como disse e torno a repetir: parecia. Uma jogada boba, uma bola despachada para frente sem muita direção ou perigo iria se tornar o reverso da moeda. A torcida atleticana iria da euforia ao choro simultaneamente com o inverso diretamente proporcional do sentimento coxa-branca. Vinícius, goleiro atleticano ficou sem reação, Danilo, zagueiro do mesmo lado, não se livrou da bola e nem ajudou Vinícius, simplesmente caiu sentado enquanto Henrique Dias surgia do nada e cabeceava a bola para o fundo das redes do time da casa. Exatamente aos dezenove minutos do segundo tempo, Heber Roberto Lopes, impecável juiz nessa partida, assinalava o gol para o time visitante.
E a garra coxa, ou lambança atleticana, como quiserem, mudou completamente os times. O rolo compressor trocou seu operador que usava as cores verde e branco. Keirrison, Marlon, e Henrique Dias quase marcaram em três situações diferentes, duas vezes a bola beijou a ingrata trave, e um vez a bola passou tão próxima ao já vencido Vinícius que alguns chegaram a gritar o gol. Porém, foi logo depois da segunda beijada da bola na trave que ninguém mais segurou o alviverde. Heber Roberto Lopes decretava a vitória do Atlético, mas o título de campeão paranaense ao Coritiba Foot Ball Club.

Parabéns nação alviverde, como é bom comemorar de novo! Em menos de um semestre, duas vezes campeão. Parabéns torcida que sofreu e comemorou comigo lá no Couto até às onze da noite, quando finalmente recebemos a taça merecida. Aliás, muito me estranha um clube que deseja que seu estádio sedie Copa do Mundo utilizar o argumento de que a entrega da taça provocaria tumulto capaz de tornar o local inseguro. Duas hipóteses: ou a diretoria do Atlético já não acreditava em seu elenco, ou realmente falta muito para que o Joaquim Américo seja digno de ser chamado de Estádio, quiçá para Copa do Mundo.