03 fevereiro 2007

Francamente, PSTU!

É extremamente fácil atacar nomenclaturas, e é só isso que o senhor Heitor Reis faz em seu texto “Bienal: alienação da UNE”. Notadamente um militante do PSTU, diz-se decepcionado ideologicamente tanto com o PT tanto com o PCdoB. Ora, afinal de contas, qual fora a decepção por uma proposta da qual nunca se fora partidário? Trata-se de um ataque raivoso àquilo que o senhor Heitor e consortes sempre atacaram, e não se trata do capitalismo, mas tão somente às forças de esquerda. Esta prática, cansativa e em nome de uma má interpretada necessidade de denunciar as mazelas sociais, em nada soma à vitória operária na luta de classes, em nada soma ao processo revolucionário. Mas, o senhor Heitor, em seu texto, atacou tudo e todos mirando suas armas à entidade nacional dos estudantes universitários. Sob o pretexto de que a UNE tem que ser sempre uma entidade de cunho socialista e revolucionária, tergiversa a própria razão de existência dessa histórica entidade. Não nos esqueçamos que o PSTU propõe o rompimento da unidade estudantil e, praticamente, num primeiro momento tentou dividí-la por intermédio de um “apartheid” via movimento de executivas de cursos, e agora através de uma UNE própria e mal elaborada de alcunha “CONLUTE”.


E, em seu referido texto, Reis defende a tábua rasa do pensamento comum pequeno-burguês como se fosse a publicação de um profundo texto revolucionário. Como? Atacando o PT enquanto traidor de seus próprios princípios e o PCdoB enquanto “puxa-sacos” da burguesia. Ora, notadamente trata-se das duas legendas partidárias de maior influência na direção da UNE e, nada mais natural para quem ataca vorazmente um inimigo que o faça começando por iludir com palavras as bases de seu inimigo. Quem se filia tanto ao PT quanto ao PCdoB, ou qualquer outro partido, o faz, no mínimo, por concordância às suas propostas, e essas em prol de seus interesses políticos ou de sua classe. O PT ampliou suas bases de maneira colossal ainda em seu I Congresso quando flexibiliza sua própria constituição e carta de princípios, dessa maneira, açambarcando todos que desejarem lutar dentro do campo de esquerda, não importando se comunista ou se pequeno-burguês reformista, mas criando condições para que se organizem em um único partido. O PCdoB, que ao contrário do que informa o senhor Reis, sempre renova seus compromissos ideológicos para com o proletariado e para com o comunismo. Não só seus líderes mencionam os “alvos básicos” como elaboram textos, discursos e organiza bases com a denúncia ao capitalismo e suas propostas de fé numa revolução, convicto de que o socialismo é etapa histórica necessária.


Além de se basear na tábua rasa do pensamento comum, comenta uma série de bobagens ideológicas que demonstram claramente sua confusão política, pelo menos àquilo que cabe a um revolucionário. Acusa, doendo mais ao PCdoB, a única sigla comunista citada, de que não mais defende o fim da propriedade, que não mais defende o fim da exploração da mais-valia, e nem anuncia como será e quando será o socialismo em nosso país. Ora, o fim da propriedade privada só acontece após a superação da necessidade de propriedade que a sociedade construiu ao longo de séculos, o fim da exploração da mais-valia só acontece com a construção do socialismo, e não existe bola de cristal futurista e com precisão absoluta, muito menos em política, e menos ainda no que diz respeito ao processo revolucionário. Isso tudo é básico a todo e qualquer um que entenda o que significa um processo político. Mas o pior é a sua violência ao achar absurdo que os comunistas não condenem o que ele chama de “financiamento da revolução com o dinheiro do patrão”. Primeiramente, todo o dinheiro está na mão do patrão, senão não haveria a necessidade de expropriá-lo. Segundo, é que a política não tem produção econômica, portanto, não há como fazer revolução vendendo agendinhas e com contribuição espontânea de seus militantes. Para a revolução ou para qualquer coisa nessa sociedade, há a necessidade de dinheiro, ou ficará no sonho do eterno gratuito, que todos sabemos, não dá certo. Por fim, o PCdoB não denuncia porque simplesmente não há a menor necessidade de ele fazer isso. Quando se faz tal ataque é apenas com o intuito de atacar outra força política da esquerda, e o PCdoB, por ideologia e prática, entende as forças de esquerda enquanto aliadas necessárias ao processo revolucionário. Então, para que enfraquecê-las? Paremos de perder tempo e passemos à construir. O inimigo são eles, os capitalistas, não nós, os comunistas.


Por fim, o senhor Reis ataca a Rede Globo, nisso não haveria problema devido ao complicado histórico de subserviência aos burgueses e suas trapaças para com o povo e o movimento social. Não se deve negar a história e com certeza denunciar os abusos da Globo faz parte do processo revolucionário. Mas o senhor Reis o faz para simplesmente atacar a UNE, e ataca a UNE simplesmente para atacar PCdoB e PT. Ora, só podemos chegar a conclusão que se trata de uma matéria que o PSTU está divulgando mas que não passa de um nocivo texto para enganar as massas. E, para as cabeças mais coerentes dessa mesma massa, no máximo, uma piada de muito mal gosto.


A Bienal da UNE é cada vez maior, cada vez mais uma prova de que os estudantes são capazes de produzir cultura e de qualidade. É um evento importante do ponto de vista político, cultural e social, e, ao mesmo tempo, um momento de confraternização entre os estudantes. E, para que se realize é necessário divulgação e dinheiro. “De onde ele vem” não deve ser a pergunta principal nesse momento, mas sim “o que foi necessário fazer ou negociar para ele vir”. Se for um dinheiro ilícito, houve a necessidade de fazer atos ilícitos, o que é inadmissível. Mas isso não ocorreu, e basta pegar a prestação de contas para ver que não. Se houve a necessidade de negociar princípios, é crime para contra os estudantes. Mas isso também não ocorreu, pelo contrário, uma das condições para qualquer atividade da UNE é a de que não haja ingerência sobre sua organização, conceito, política ou qualquer coisa que ataque as decisões congressuais e o interesse estudantil. Além da questão financeira, os maiores artistas do país, em sua maioria, trabalham na Rede Globo, e se esta não autoriza a atuação de seus artistas, e vários deles estudantes, nenhum deles poderão participar do maior evento cultural da entidade dos estudantes. É certo que durante a Bienal não foram poucas as denúncias para contra a Globo. O momento de denúncias da Bienal também existiu. E, como não foi a Globo a exclusiva patrocinadora do evento, o debate pode ocorrer com tranqüilidade e podendo até mesmo gerar movimentos e documentos sobre isso.


O texto é horrível, absurdo, nocivo e enganador. Estranha-me mais é o PSTU fazer dele documento de propaganda.